Esse trabalho é um resultado de um conjunto de encontros de múltiplas dimensões que envolveu disdintos agentes sociais, de forma direta e indireta, em uma empreitada de caráter analítico, mas também político, em torno da vida de Santa Maria, comunidade quilombola que vive no alto curso do rio Pericumã, conexão geográfica entre os municípios de Viana, Pedro do Rosário e Pinheiro, todos localizados na microrregião da Baixada Maranhense. Nesse sentido, buscou-se compreender a relação existente entre a memória social e coletiva deste grupo e as ações performativas de seu processo de territorialização no contexto de (in)definições de direitos territoriais pactuados e assentes na chamada Constituição Cidadã. Como referenciais teóricos utilizados para a construção da análise apresentada, considerando a situação do Quilombo Santa Maria, as noções de "territorialização" e "aquilombamento" possuíram importância explicativa central, sobretudo para compreender a relação entre a reestruturação de padrões culturais, o acionamento das memórias e a luta pela permanência no território. Dos caminhos metodológicos escolhidos para a tarefa antropológica de compreender a vida dos outros me situei diante de três instrumentos de compreensão da realidade social construídos dentro do pensamento antropológico: a reflexividade pós-moderna, a hermenêutica semiótica da descrição densa e a multisituacionalidade/relacionalidade da etnografia multilocalizada.