Exaltação do profano na festa da sagrado em Santa Cruz dos Milagres - PI
Romaria. Festa. Sacrifício. Mercado.
Esta pesquisa tem como objetivo descrever e analisar a relação dinâmica entre o sagrado e o profano na cidade de Santa Cruz dos Milagres – PI, em tempo de festa associada à romaria a partir da relação sacrificial entre o romeiro e a Santa. Nessa pretensa abordagem, foram enfocadas a lógica sacrificial do romeiro, na qual o consumo se insere como um dos elementos principais no fortalecimento do vínculo entre deuses e homens na obtenção da graça. Em tal perspectiva, o mercado formado em tempo de festa e romaria, se insere como parte da rota ritual dos romeiros, em que a compra de bens e serviços são transformados em atos religiosos. Para discutir a construção do espaço sagrado nos rituais e festas de santos apoiei-me em Durkheim, Fernandes e Sanchis; no que concerne à rota do romeiro como espaço ritual de trocas de bens e serviços que circulam como objetos da vida social e cósmica na forma de dons e contra-dons utilizei os pressupostos de Malinowski; sobre a lógica sacrificial presentes no universo das trocas simbólicas entre homens e deuses em tempo de romaria e festa subsidiaram-me de Bataille, Mauss e Lévi-Strauss. O método de pesquisa foi o etnográfico, como técnica, a observação participante, entrevistas semi-estruturadas, registro em diário de campo, além de conversas cotidianas com os sujeitos da pesquisa. Dentre as principais questões observadas, destaco o surgimento de outras lógicas em concomitância com lógica sacrificial do romeiro, como a lógica do cliente defendida pelo prestador de serviço, e a lógica rotinizante na qual a igreja está inserida. As lógicas sustentadas por esses sujeitos constroem um campo de conflitos e tensão, mas alinham-se em prol das práticas sacrificiais do romeiro. Dessa forma é possível perceber no tempo da festa, principalmente, da festa de exaltação, dois sentidos vivenciados pelo romeiro: a compra, como sacrifício e o profano, como forma de ressaltar o sagrado.