O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa com jovens estudantes de alguns países africanos inseridos no âmbito do ensino superior luso-brasileiro. Como questão-problema procurou-se refletir sobre como se dá a relação nas práticas educativas entre alguns jovens africanos estudantes e seus respectivos docentes em duas instituições de ensino superior nos países de “acolhimento” Brasil e Portugal. Para tanto, traçamos como objetivo geral: Compreender as Práticas Educativas de docentes do Ensino Superior com Jovens do continente africano estudantes de cursos de Graduação e Pós-Graduação na Universidade Federal do Piauí/Brasil e Universidade do Minho/Portugal. Para o efeito, utilizou-se como metodologia a pesquisa qualitativa, o método Estudo de Caso comparado, por se considerar o mais adequado ao objeto de estudo. Como técnicas de recolha de dados, optou-se por utilizar a entrevista semiestruturada e o Diário de Campo. Para a análise dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo, construindo categorias e subcategorias a partir de unidades de registro selecionadas, ancorados na ênfase de Bardin (1979) A discussão teórica foi balizada por estudos de autores como: Bomfim (2010), Boakari (2008, 2009), Matos (2004,2005), Gusmão (2005), Fanon (2008), Santos (2010), Gomes (2010), Matos (2008, 2011) Machado (2002), Casa-Nova (2007, 2009), Stoer (1994), Tardif (2008), Gusmão (2005), Seabra (2008), Abrantes (2010), Pimenta e Anastasiou (2010), dentre outros. Busca-se problematizar as significações captadas no discurso destes jovens e de docentes do ensino superior nos dois países pesquisados. Importa referir que, após a escuta sensível dos sujeitos entrevistados, defende-se a ideia da implementação de uma educação intercultural que compreenda a especificidade dos jovens africanos enquanto estudantes oferecendo-lhes assim a possibilidade de concluir seu ciclo escolar, de forma digna e eficaz. A proposta também assenta no reconhecimento destes para além da condição de estudantes, de modo a que sejam compreendidas suas identidades, suas representações, anseios e singularidades, concebendo-os como sujeitos sociais capazes de transformar positivamente a realidade na qual estão inseridos. Nesse sentido, apontamos alguns resultados dessa pesquisa: a) No que diz respeito às motivações da transferência dos jovens estudantes africanos para fins de estudo nos dois países, justifica-se pela incapacidade das Universidades de Origem de oferecer um ensino superior de qualidade. e a despeito das escolha dos países Brasil e Portugal, reside, em síntese, por acordos e convênios de cooperação internacional, pela facilidade da língua, pela oportunidade de fazer um intercâmbio e por referências e incentivos de amigos; b) No que se refere à avaliação dos apoios institucionais, verifica-se uma precariedade da Assessoria Internacional das duas instituições (UFPI/UMINHO) quando não conseguem, na avaliação de nossos sujeitos, suprir as demandas mínimas de apoio ao estudante estrangeiro; c) A maioria dos jovens entrevistados avaliam negativamente os professores do ensino superior nas duas instituições e em diversas dimensões, considerando que os mesmos não trabalham a dimensão da interculturalidade em sua prática docente. Portanto, apesar de vivermos um contexto marcado por mudanças significativas na educação, os resultados da investigação demonstram que as práticas educativas ainda permanecem arraigadas em um modelo tradicional de ensino. Abordam-se, por fim, as possibilidades e os dilemas na construção de uma prática educativa intercultural, recomendando-se o investimento em formação permanente dos professores enquanto marco normativo das duas instituições pesquisadas.