As múltiplas exigências contemporâneas exigem céleres adaptações nos contextos educativos. O paradigma da inclusão escolar apresenta novas demandas ao ofício de ser professor, exigindo que as práticas pedagógicas se organizem intencionalmente para atender às expectativas e às necessidades de um grupo amplo de alunos, incluindo os alunos que destoam do regular, como os alunos com altas habilidades/superdotação – AH/SD. Com o intuito de avançar nas discussões que tratam do trabalho pedagógico sob uma perspectiva descritiva, reducionista e instrumental, propõe-se neste estudo a investigação das práticas pedagógicas a partir das relações, das contradições, dos enfrentamentos, dos alinhamentos e rupturas, que caracterizam a subjetividade humana. O objetivo principal desta pesquisa é, portanto, investigar os processos subjetivos de professores no trabalho pedagógico com alunos com AH/SD. O sistema teórico que orienta este estudo permite abordar a subjetividade em uma perspectiva complexa e dinâmica, que se configura a partir da história de vida da pessoa e dos diversos espaços sociais em que atua. A Teoria da Subjetividade, desenvolvida em uma perspectiva cultural-histórica por González Rey, é articulada às discussões que envolvem o campo da inclusão escolar e, de forma específica, do campo das AH/SD, contribuindo para o reconhecimento da singularidade como condição legítima dos processos educativos. Essa investigação apoia-se na Epistemologia Qualitativa e no método construtivo-interpretativo, também desenvolvidos pelo autor. O estudo foi realizado com uma professora que atua com alunos com AH/SD em uma escola regular em Teresina, tendo como colaboradores outros docentes, psicólogos e coordenadora pedagógica. Para a produção das informações, foram usados instrumentos escritos e orais, com a finalidade de oportunizarem processos dialógicos entre pesquisadora e participantes, como entrevistas, completamento de frases, composição, caixa de crenças, linha da vida. As informações resultantes do processo construtivo-interpretativo foram organizadas em dois eixos temáticos: aspectos constitutivos da escola favorecedores da inclusão escolar do aluno com AH/SD e os processos subjetivos configurados na ação pedagógica de uma professora junto a seus alunos com AH/SD, em uma escola regular. O estudo aponta que são aspectos favorecedores de práticas pedagógicas inclusivas em relação ao aluno com AH/SD: a produção coletiva e dialógica do trabalho pedagógico, que viabiliza ao grupo de professores a configuração de um espaço de formação mútua; a organicidade nas ações desenvolvidas pelos professores da sala comum e do AEE; o sentimento do professor de pertencimento à instituição, que favorece a sua implicação no trabalho; perceber os alunos com AH/SD como facilitadores do ensino, ao possibilitarem aprendizagens para os colegas e professores; a circulação de elevadas expectativas de aprendizagem em relação aos alunos; o trabalho pedagógico enriquecido material, cultural, social e emocionalmente dirigido a todos os alunos indiscriminadamente; a expressão do professor como sujeito nas relações e nas práticas pedagógicas; dentre outras. Desse modo, compreende-se que os processos subjetivos, em seu caráter individual e social, são importantes constituintes do trabalho pedagógico e a expressão do professor como sujeito favorece a criação de espaços sociais propiciadores de maiores aprendizagens e expressões criativas e emocionais dos alunos com AH/SD.