A escolarização do surdo tem provocado angústia em toda a comunidade escolar, desde que esta pauta saiu do papel e exigiu execução. Essa angústia é, ainda maior, para os surdos plurilingues de Várzea Queimada/PI, visto não verem respeitadas sua língua e cultura, no processo de aprendizagem. Assim, a questão que moveu esta pesquisa foi: quais as concepções de surdos que fazem uso simultâneo da Libras, do Português e da Cena, sobre seu processo de escolarização, na “cidade dos surdos” (Várzea Queimada/PI)? Os objetivos da pesquisa foram, da seguinte forma, configurados: de forma geral, analisar o processo de escolarização, na perspectiva de surdos plurilíngues (Cena/Libras/Português), no Povoado de Várzea Queimada/PI); e de modo específico: conhecer o processo de escolarização dos surdos plurilingues, na “Cidade dos surdos” (Várzea Queimada/PI); compreender, na perspectiva dos surdos, as dificuldades enfrentadas em seu processo de escolarização; conhecer os aspectos facilitadores no processo de escolarização dos surdos, na perspectiva desses sujeitos; e identificar as estratégias de ensino utilizadas com os surdos plurilíngues. Para tanto, realizou-se uma pesquisa qualitativa, de abordagem etnocêntrica, por meio de um estudo de caso, onde o sujeito-pesquisado (surdo) foi o protagonista sobre seu processo de escolarização na rede pública municipal, no povoado de Várzea Queimada/PI. Foram utilizados, para isso, entrevista em processo (virtual, devido ao momento de pandemia; e de forma presencial, no momento possível e autorizado, tanto pela escola, como pelos participantes). Os pontos discutidos permitiram compreender as concepções dos surdos a respeito desse processo. Foi possivel constatar que as estratégias metodológicas utilizadas pelas professoras não correspondem às necessidades educativas dos surdos, especialmente, porque a língua materna (Cena) não é a língua de comunicação, utilizada em sala de aula. Verificou-se, ainda, por meio dos depoimentos dos surdos, que não houve aprendizagem suficiente que garantisse compreensão da língua portuguesa, que lhes garantisse uma aprendizagem e progressão de qualidade. Os dados a respeito dos surdos comprovou, também, que somente poucos surdos conseguiram chegar ao 6º ano e apenas uma, ao ensino médio. Em compensação, o índice de absenteísmo e evasão é bem mais alto. Isso, apesar de se ter garantido uma turma composta somente de surdos, comprovando que não é suficiente o convívio entre os pares, mas, principalmente, intérpretes em sala, adultos surdos de referência e professores que conheçam e façam uso da lingua materna e metodologia adequada ao processo de letramento do surdos.