O processo de inclusão social do surdo é pauta permanente de discussão, devido às lacunas na garantia de direitos da população surda, em relação às políticas públicas básicas de educação, saúde, trabalho, cultura etc. É uma preocupação expressa pela comunidade surda, visto que, apesar das conquistas legais, ainda são registradas omissões e negações de direitos fundamentais. Essa preocupação é, ainda maior, no que se refere aos surdos plurilíngues de Várzea Queimada (PI), por não verem respeitados seus direitos à aprendizagem e inserção social. Nessa perspectiva, a questão que moveu esta pesquisa foi: quais as concepções de surdos que fazem uso simultâneo da Libras, do Português e da Cena, acerca do seu processo de inclusão social, na “cidade dos surdos” (Várzea Queimada - PI)? Desse modo, o objetivo geral do estudo foi, investigar o processo de inclusão social de surdos plurilíngues no povoado Várzea Queimada (PI). Para tanto, realizou-se uma pesquisa qualitativa, por meio de um estudo de caso do tipo etnográfico, no qual os sujeitos pesquisados (surdos) foram os protagonistas. Participaram 06 surdas e 03 surdos, além de colaboradores não surdos que participam da vida comunitária, familiar e escolar dos surdos (02 gestores da escola, 03 professoras, 02 professores, 01 agente de saúde e 02 mães) dos surdos. Foram utilizadas como técnicas etnográficas, a observação participante e a entrevista intensiva (virtual, com duas professoras, devido ao momento de pandemia; e de forma presencial, com os surdos, três professores, os gestores, as duas mães e o agente de saúde, no momento possível e autorizado, tanto pela escola, como pelos participantes). Os pontos discutidos permitiram compreender as concepções dos participantes (surdos) e dos colaboradores (não surdos) a respeito desse processo. Foi possível constatar que apesar dos surdos participarem das atividades laborais, religiosas e culturais na comunidade, não são protagonistas, na maior parte desses espaços/eventos. Em relação ao trabalho, são artesãos e agricultores, com raras exceções. Alguns recebem benefício social do governo federal, contribuindo com a renda familiar. Participam como espectadores, dos eventos religiosos e culturais. No que se refere à educação, constatou-se que as estratégias metodológicas utilizadas pelos professores não correspondem às necessidades educativas dos surdos, especialmente, porque a língua materna (Cena) não é a língua de instrução, utilizada em sala de aula. Verificou-se, ainda, por meio dos depoimentos dos surdos, que não houve aprendizagem suficiente que garantisse compreensão da língua portuguesa, de modo a lhes assegurar progressão educaional de qualidade. Os dados a respeito dos surdos comprovaram, também, que estes são matriculados em uma turma de educação de jovens e adultos, sem especificação de série/ano, há mais de 10 anos. Notou-se que o índice de absenteísmo e evasão é significativo, apesar de ter sido garantido uma turma composta somente de surdos, o que representa certa segregação, uma vez que ainda assim, não é assegurado ensino de qualidade e comprovando que não é suficiente o convívio entre os pares, mas, principalmente, faz-se necessário que haja intérpretes em sala, adultos surdos de referência e professores que conheçam e façam uso da língua materna e, sobretudo, metodologias adequadas ao processo de letramento dos surdos.