A prática educativa que vem sendo desenvolvida nas escolas da educação básica nos convida à uma incursão no modelo estrutural da base organizativa da proposta curricular. Considerando que esta seja a gerenciadora da relação teoria e prática da gestão pedagógica na sala de aula, verifica-se, em elevada escala, que as práticas que envolvem o ensino estão imbuídas por um paradigma de natureza memorístico de repetição e uniformização de atividades pouco atrativas, tornando os conteúdos curriculares esvaziados de reflexão e problematização filosófica.
Essas práticas, não conjugadas, reproduzem um modelo de saber fragmentado, desvinculado do todo, predominando, no trabalho docente uma visão onde as disciplinas são desenvolvidas de forma compartimentalizada, ou seja, isoladas, de forma que seus saberes não se articulam entre si. Tudo isso tem consequências para o processo de formação dos educandos, reproduzindo para o sistema pessoas sem autonomia e acríticas, conformadas com sua condição de receptor. Isso tem como consequência uma escola é percebida como uma instituição nada atraente, uma vez que seu discurso não atende, em grande parte, os cenários emergentes da contemporaneidade. Esta realidade se traduz no cotidiano dos educandos, em uma escola que não proporciona o prazer de uma aprendizagem significativa, uma vez que a prática pedagógica, ao se assentar em um modelo que não estabelece interconexão com as diferentes áreas de saber, desvincula-se da realidade.
Levando-se em conta o desenho deste modelo de ensino, que predomina nos currículos escolares, urge a produção de propostas pedagógicas que privilegiem a visão de um currículo ressignificado, i.e., que ponha em relevo a necessidade de que a essência do ato de filosofar se constitua no âmbito dos saberes curriculares. E isso só se concretiza quando a proposta pedagógica “dá lugar ao pensamento dos estudantes, à medida que a problematização seja uma construção coletiva” (CERLETTI, 2014, p. 18). Sendo assim, o ato de filosofar, não se faz sozinho, pois requer um trabalho que mobiliza um corpo coletivo para o desenvolvimento de sujeitos autônomos e críticos.
Nesta perspectiva, fundamentaremos estas discussões na teoria da complexidade, tal como é proposta por Morin, que defende, em sua base teórica, que: “a atitude de contextualizar e globalizar é uma qualidade fundamental do espírito humano que o ensino parcelado atrofia e que, ao contrário disso, deve ser sempre desenvolvida” (MORIN, 2002, p. 18), acrescentando ainda: “que é preciso substituir um pensamento que isola e separa, por um pensamento que distingue e une. É preciso substituir um pensamento disjuntivo e redutor por um pensamento do complexo, no sentido originário do termo complexus: o que é tecido junto” (MORIN, 2002, p. 38).