A Filosofia, na cultura do ocidente, sempre privilegiou alguns modos de pensar em
detrimento de outros, o que nos levou a construir nosso pensamento valorizando algumas
categorias e deixando outras de lado. Uma das oposições que se apresentaram nesta
competição foi a estabelecida entre a identidade e a diferença, explicitando a consideração
de uma superioridade identidade em prejuízo à diferença, numa concepção de estabilidade
e permanência que não prejudique a visão de mundo estabelecida como essência,
valorizando um atributo que torna tudo o que existe reconhecível. Essa forma de ver o
mundo impregnou também os processos educacionais ao considerar a existência de
Ícones do que seja professor e do que seja aluno. Esses Ícones expressam o Modelo e
perpetuam a sua ação, sua prática, fala, sentimento e pensamento. Dessa forma um
Professor e o Aluno são cognominados como Verdadeiros, Corretos, Competentes, Bons,
ao passo que os outros, que não se apresentam como Ícones são vistos como não
autênticos, infiéis à ideia de cópia fidedigna e, portanto, simulacros. No entanto, início
do século passado, a categoria privilegiada da identidade passa a sofrer uma análise crítica
a partir do aparecimento de uma filosofia que valoriza a diferença. Surge assim a Filosofia
da diferença. Essa nova forma de pensar a realidade tem como um dos grandes nomes o
francês Gilles Deleuze, que se propõe a pensar a relação entre a diferença e a repetição
com o intuito de demonstrar o caráter simbólico da repetição (entendida como uma
convenção), a realidade da diferença e a modificação avaliatória das ocorrências.
Percebendo que esse jogo de oposições entre a identidade e a diferença se encontra
presente no universo educacional, pretendemos através deste trabalho partir de uma
perspectiva genealógica da construção dos pressupostos teóricos da forma jesuíta de
conceber a aprendizagem, do PEC – Projeto Educativo Comum da Rede Jesuíta, seguir
com o estudo da teoria da diferença de Gilles Deleuze em obras como O que é Filosofia,
Diferença e Repetição, Lógica do Sentido e Mil Platôs, bem como a apreciação de
pesquisas realizadas em dissertações e livros publicados por estudiosos de Deleuze para,
por fim, submeter o PEC jesuíta a uma análise realizada à luz do pensamento filosófico
de Gilles Deleuze objetivando identificar a presença de elementos de um fazer
educacional marcado por elementos de uma filosofia da diferença.