Este estudo apresenta como enfoque o tema: o processo ensino-aprendizagem de Filosofia no Ensino Médio e delimita-se por perspectivas e desafios docentes para a construção de práticas educativas condizentes com as exigências e demandas sociais da contemporaneidade. Seu objeto de estudo é o uso do documentário como proposta de unidades didáticas para as aulas de filosofia no Ensino Médio.
A estratégia de contextualização que se pretende produzir nas aulas de filosofia do Ensino Médio, parte do uso da narrativa do gênero documentário para abordar diferentes temas do ensino de filosofia requeridos nos documentos oficiais do Ministério da Educação, tais como, os Planos Curriculares Nacionais (PCNs). Nesse sentido, o presente estudo possui caráter dual, pois, de um lado empreenderá o procedimento de pesquisa bibliográfica e exploratória, que de acordo com Gil (2002), não se restringe apenas à exposição bibliográfica, mas também, a análise de exemplos que estimulem a compreensão. De outro lado, contempla o caráter prático, ou seja, uma intervenção prática, a partir de elaboração de propostas de unidades didáticas para o ensino de filosofia, como versa o documento sobre o trabalho de conclusão e certificação PROF FILO, que espera que o trabalho inclua, por exemplo, implantação de unidades ou sequências didáticas.
O plano de desenvolvimento desta pesquisa comporta um capítulo que engloba ampla bibliografia de autores, em especial, das áreas de Filosofia e Ensino de Filosofia, que discutem o ensino de filosofia e suas implicações, ou seja, tudo que esta atividade suscita, por exemplo, o que é a Filosofia para que para que se possa ensiná-la? Indagação levantada por Gallo (2012), assim como, os meios ou recursos didáticos adequados à promoção de um ensino que prime pela transmissão de conhecimento filosófico contextualizado e significativo e, desta forma, possa propiciar a adoção de uma atitude filosófica tanto do docente, graduado para o ensino de filosofia, quanto do discente.
O autor referência nesta pesquisa, o filósofo pragmatista Richard Rorty, concebe a filosofia como um conhecimento prático, isto é, que pode colaborar com mudanças efetivas no contexto social, político, entre outros setores da sociedade. Sua filosofia não é contemplativa, não se detém a teorizar sobre o conhecimento, ao paradigma epistemológico. Ela é uma filosofia terapêutica e, com isto, busca o progresso intelectual e moral da humanidade, portanto, a redução da crueldade embutida nas mais diversas instituições sociais, como exemplo, a desigualdade social, a discriminação, e tantos outros temas.
Nesta perspectiva, de uma filosofia pragmatista na acepção rortyana, apoia-se o objeto de estudo deste trabalho, o uso de documentário nas aulas de filosofia no Ensino Médio. Este tipo de narrativa capaz de envolver e sensibilizar as pessoas é potencialmente eficiente para a transmissão de conhecimentos, provocar a reflexão, a mudança de postura, ou seja, o olha sobre a realidade. Como diz Rorty (2007, p. 21), “[...] é por isso que o romance, o cinema e o programa de televisão, de forma paulatina, mas sistemática, vêm substituindo o sermão e o tratado como principais veículos de mudança e progresso morais”.
Em vista disto, o uso do gênero documentário na sala de aula permite melhor esclarecer temas filosóficos, porque lida com as sensações dos discentes, ver, ouvir, sentir. É dessa maneira, como afirma Rorty que a narrativa deve possuir papel preponderante na educação, pois o mesmo reconhece que a teoria não influencia efetivamente no desenvolvimento de uma atitude crítica, capaz de contribuir para mudanças de pensamento e, por consequência, propiciar transformações sociais que visem a melhorar a vida das pessoas.
A proposta de uso do documentário nas aulas de filosofia no Ensino Médio, não significa empregar este recurso isoladamente, mas também compreende realizar a conexão entre o documentário e “o saco de utilidades”, como nomeia Gallo (2012), para a compreensão concreta e ativa do discente.
Sobre a intervenção prática neste trabalho, o principal fundamento para a construção de propostas de unidades didáticas para as aulas de filosofia utilizando o gênero documentário, apoia-se na crença de que o ensino filosófico centrado no paradigma prático precisa ser considerado, para que haja efetiva contextualização no processo ensino aprendizagem. Posto que, se tem verificado através de relatos e experiências nas instituições sociais de educação e em diversos estudos sobre o assunto, que o ensino de filosofia não cumpre sua função de forma satisfatória adotando o paradigma teórico. Essa guinada em favor da narrativa e contra a teoria é o que se pretende com a elaboração de sequências didáticas priorizando o uso do documentário para as aulas de filosofia, acredito que seja este o ponto de partida para amenizar ou mesmo solucionar o problema aqui levantado: Como empregar metodologias de ensino que promovam uma aprendizagem contextualizada e significativa da disciplina de Filosofia?
Para a constituição e organização das propostas de unidades didáticas, nove documentários serão selecionados, com base em exaustiva análise de sua abordagem quanto a temas filosóficos. Cada documentário apresentará três unidades didáticas, sendo que cada uma delas trará um tema de filosofia exibido neste gênero. Estas unidades didáticas estarão dispostas em quadros com quatro classificações: objetivos, conteúdos, atividades e recursos didáticos. O que se pretende com isto, é discutir e elencar por meio da narrativa as classificações acima descritas para alcançar a compreensão significativa do referido tema de cada unidade.