CPCE - EDUCAÇÃO DO CAMPO/CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - Presencial - Bom Jesus - PROCAMPO

 

Curso  Nível  Graduação

CAMPUS PROFESSORA CINOBELINA ELVAS/UFPI - CPCE

Notícias

Carta aos Calouros da LEDOC 2022


Prezados/as estudantes, recebê-los/as em nosso curso, na ledoc da UFPI, renova nossas esperanças na universidade pública com um espaço de democratização do conhecimento. 

 

Temos vivido tempos difíceis, marcados pelo negacionismo da ciência, pela perseguição ao pensamento crítico, pela supressão de direitos entre outras características que marcam e dilaceram nosso país, distanciando-nos de valores fundamentais como a paz, a divisão da riqueza, o respeito ao trabalho e a defesa da natureza. Além disso, para agravar o quadro aqui exposto, sofremos os impactos de uma pandemia que se arrasta a partir de um processo complicado de gestão da saúde pública.

 

Como diriam os amigos do litoral, no mar não está pra peixe, nem dentro e nem fora da universidade. 

 

A consciência profunda do tempo em que vivemos, se pode parecer desalentadora para alguns, para nós é o antídoto contra todo esse cenário. Ou melhor, um dos antídotos. Assim o consideramos, porque para nós, falar de consciência significa não apenas saber de algo, mas, na medida em que sabemos, ter a coragem de nos comprometer com a mudança, de lutar por ela.

Contamos com cada um/a de vocês na soma dessa luta, que é coletiva, da qual povos do campo e da cidade, da classe trabalhadora, devemos nos engajar e da qual nosso futuro depende. 

 

Na universidade, a principal arma dessa luta é o processo de ensino, de pesquisa e de extensão, o qual nos permitirá aprender, do ponto de vista das ciências sociais e humanas, como viemos parar nesse ponto de inflexão histórica e com dele podemos sair. 

 

Aprendamos as saídas com aqueles "lentados do chão", com os povos do campo que lutaram e que em condições adversas, arrancaram do Estado a ação de criar este curso de ação afirmativa, a Ledoc, reparando uma dívida histórica acumulada neste país para com as classes populares, em especial a classe camponesa, a classe roceira, a classe lavradora, a classe extrativista.

 

Estes povos, que, como diz Saramago, da terra só aceitaram a sepultura e nunca a resignação, nos ensinam que lutar, junto: "uma andorinha solitária não faz verão".

 

Reforçamos, este espaço, o da universidade, exige de nós uma profunda dedicação em conhecer o mundo (social, natural, cultural) para além das aparências. Afinal, "se a aparência fosse igual à essência, não seria necessária a ciência" (K. M). Mas há muitos grupos, os que controlam o poder e o dinheiro, aos quais não interessam que saibamos a verdade sobre o mundo, que conheçamos a relação causa e efeito. Eles controlam a mídia e noticiam: desastre ambiental em tal local, crescimento econômico do país com cultivo de tal planta, mas nunca evidenciam a relação de causa e efeito entre o dito desastre ambiental, de um lado, e o desmatamento realizado para viabilizar tal monocultura; muito menos nos permitem questionar quem lucra com o tal crescimento econômico e sobre quem recaem os ônus dos tais desastres ambientais. 

 

Este curso, pretende auxiliar cada um de vocês na compreensão de situações como essa e estimulá-los a, sendo educadores/as do campo, construir alternativas à lógica do capital, que pressupõe a destruição da vida. Para tal construção, será essencial o regime pedagógico da alternância, que proporcionará a vocês pesquisarem as situações vividas por suas próprias comunidades camponesas e pelas escolas do campo. A pesquisa, será estimulada por meio das aulas, e o aprendizado adquirido em aula e na pesquisa servirá de base para vocês desenvolverem projetos de extensão, que são processos de compartilhamento de saberes, com suas comunidades de origem. A ideia é que educação e vida se fundam em um único processo formativo, que a Ledoc lhes auxilie a se enraizarem em seus próprios territórios e a florescerem como educadores/as do campo.  

 

Este curso não tem nada a ver, em termos metodológicos e mesmo em sua intencionalidade, como o que ocorre na maioria das escolas e em muitas universidades. A educação nos campo nos convoca a ousar, inspirados em experiências educativas de êxito da classe trabalhadora. Não é porque algo não existe que ele não pode ser feito. A mudança é uma possibilidade e ela depende, em muito, de nossa capacidade de aprender e da capacidade de organização social dos povos. Se a escola que temos não serve aos nossos propósitos, não precisamos jogar fora a ideia, transformadora por sinal, da existência de um lugar educativo onde as novas gerações possam ter contato com o conjunto de conhecimentos (científicos, filosóficos e artísticos) que a humanidade produziu. Precisamos, isso sim, mudar a forma escolar atual que não permite que este objetivo seja cumprido para todos, empurrando para as classes populares, sobretudo do campo, uma escola do "cai não cai", que arremeda a educação urbana e que ensina os estudantes a aceitarem com imutável a lógica da desigualdade, a defenderem o individualismo e a acreditarem que é normal que mas, pessoas possam ter (e que isso significa ser) impedindo as demais de viver, que a existência de alguns impeça os modos de vida de outros.

 

Sim, o que queremos dizer é que o curso da licenciatura da educação do campo tem como base a pedagogia da desopressão. Bem-vindos/as ao desafio de se exercitarem nessa perspectiva. Foi desafiador ingressar no curso: o desafio continua de agora em diante. Para tornar esse caminho mais proveitoso, busquem sempre a via do diálogo, do respeito, da coletividade e do compromisso com os direitos humanos.  

 

Texto: Professora Kelci Anne Pereira

 


Notícia cadastrada em 04/03/2022 16:57  

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