A investigação da proveniência de pigmentos rupestres é crucial para elucidar as escolhas tecnológicas e a interação sócio-ambiental de populações pré-coloniais. Neste contexto, este estudo visa caracterizar arqueometricamente os pigmentos rupestres não figurativos do Sítio Apertados, Inhuma, Piauí, e determinar sua proveniência. Para isso, empregou-se uma abordagem integrada com espectrometria de Fluorescência de Raios X por Dispersão de Energia (pEDXRF), espectroscopia Raman, Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) e análise geomorfológica. Os resultados da pEDXRF revelaram teores elevados de ferro (Fe) nos pigmentos (8,6–26,8%), especialmente nas amostras SAP 2024 03 e SAP 2024 04, contrastando com o baixo teor no substrato arenítico (2,0% Fe), o que descarta sua origem por lixiviação. A presença de fósforo (P) (8,4–15,3%), enxofre (S) (3,0–20,9%), alumínio (Al) e potássio (K) indica a associação do pigmento a filossilicatos e processos pedogenéticos. A espectroscopia Raman identificou bandas características de hematita (α-Fe2O3), (146, 226, 297 cm⁻¹) e um alargamento em 410–500 cm⁻¹, atribuído a silicatos desordenados. Nas amostras mais ricas em ferro, intensificam-se as bandas da hematita com morfologias lamelar e martítica confirmadas pelo MEV, que também evidenciou a presença de caulinita (Al2Si2O5(OH)4) e microestruturas de intemperismo. Geomorfológicamente, o abrigo situa-se em Neossolos Litólicos ricos em óxidos de ferro e argilominerais. A convergência dos dados analíticos com o contexto geológico local demonstra que os pigmentos foram obtidos a partir de fontes de ocres disponíveis no entorno imediato do sítio, sem necessidade de transporte de longa distância. Os resultados mostram que as pinturas consistem em uma microcamada multifásica intencionalmente aplicada, cuja composição reflete uma específica sequência operacional e um forte vínculo com a exploração de recursos minerais locais, contribuindo para a compreensão das práticas tecnológicas na arte rupestre do Piauí.