Introdução: A motivação para o tratamento do Diabetes Mellitus está centrada nos processos cognitivos. As evidências de validade baseadas no processo de resposta do QMot-DM2 permitem o entendimento de processos cognitivos envolvidos nas respostas aos itens. Nesse cenário, o eye tracking é uma tecnologia que monitora os movimentos oculares, sendo útil para compreender o tempo de leitura, fixação e varredura do olhar sobre os itens. Objetivo: Avaliar as evidências de validade do processo de resposta do Questionário de Motivação ao tratamento do Diabetes Mellitus 2 (QMot-DM2). Método: Trata-se de um estudo observacional, transversal analítico, com abordagem mista, fundamentada em evidência baseada no processo de resposta. Os dados foram coletados de julho a setembro de 2024 na Atenção Primária à Saúde de Teresina-PI. Utilizou-se uma amostra não probabilística sequencial, composta por 38 pessoas com DM 2. O eye tracking foi utilizado para coleta do comportamento ocular durante a resposta aos itens do QMot-DM2 disposto em tela. Após o experimento, foram realizadas entrevistas cognitivas, audiogravadas e transcritas na íntegra. Realizou-se a análise descritiva dos dados sociodemográficos e das métricas oculares: média, mediana, desvio padrão, tempo de fixação. A normalidade dos dados foi verificada e o pressuposto de homogeneidade de variância avaliado por meio do teste de Levene. Foram realizados procedimentos de bootstrapping (500 re-amostragens; 95% IC BCa) e aplicado o teste t de Student para amostras independentes. Utilizou-se o software JASP®, versão 0.19 para elaboração de gráficos e os demais dados foram analisados no software SPSS®, versão 20.0. As entrevistas foram submetidas ao software IRaMuTeQ®, versão 0.7, sendo aplicados a Classificação Hierárquica Descendente, analise de similitude e nuvem de palavras. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, com parecer N° 6.793.485. Resultados: 38 pessoas com DM2 participaram da amostra, tinham uma média de idade de 61,95 anos (DP= 9,56, Mín. = 41, Máx.=86), maioria do sexo feminino (76,3%), cor da pele parda/negra (73,7%), escolaridade acima de 8 anos de estudo (55,3%), tempo de fixação com média de 11,95 minutos (Mín. = 2,22 min., Máx.= 20,64 min.). Identificou-se que a idade, escolaridade e raça/cor, foram variáveis que interferiram no tempo de fixação aos itens, observado por pessoas com menos de 60 anos tiveram tempo de fixação estatisticamente menor (M = 10,13 minutos; DP= 4,30) do que àquelas com mais de 60 anos (M = 13,43 minutos; DP = 4,14), (t= -2,39, p = 0,022), mais de 8 anos de estudo tiveram tempo de fixação estatisticamente menor (M = 10,15 minutos; DP= 3,87) do que àquelas com menos de 8 anos de estudo (M = 14,19; DP = 4,25), (t= 3,05, p = 0,004) e pessoas brancas/amarelas tiveram tempo de fixação menor, mas não significativo (M = 10,82 minutos; DP= 3,54) do que pessoas autodeclaradas negras/pardas (M = 12,36; DP = 4,76), (t= 0,93, p = 0,35). Na análise qualitativa, obteve-se 5 classes semânticas categorizadas em: I: Utilização das medicações, acesso a insumos e monitoramento regular da glicemia como parte essencial no manejo e tratamento da DM2; II: Interface entre aspectos espirituais, apoio profissional no controle da DM2; III: Relevância da atividade física no controle da DM2; IV: Prevenção e autocuidado dos pés, pele e visão relacionados ao DM2; V: Hábitos alimentares e controle do peso relacionados ao autogerenciamento dos níveis glicêmicos no tratamento da DM2. Conclusão: O estudo permitiu avaliar as evidências de validade do processo de resposta do QMot-DM2, comparando as médias do tempo de fixação com as características sociodemográficas, a identificação das áreas de interesse, o tempo de fixação do olhar aos itens e a compreensão das escolhas dos participantes por meio da entrevista cognitiva.