O objetivo central dessa dissertação é analisar como se constituiu o papel ambivalente da imprensa, ora como articuladora de projetos nacionalistas, ora como alvo de controle e vigilância no contexto da Guerra Fria e da instauração da ditadura civil-militar no período de 1953 a 1967, com ênfase no Estado do Piauí. A metodologia emprega análise qualitativa de fontes primárias diversificadas, incluindo documentos desclassificados americanos da Brown Digital Repository e Freedom of Information Act, arquivos do Serviço Nacional de Informações ( SNI), inquéritos policiais-militares e jornais (O Dia, Estado do Piauí, O Semanário, Jornal do Comércio). Teoricamente, a pesquisa dialoga com autores como Domingos (2009) sobre nacionalismo, Ramsés (2015) sobre as Ligas Camponesas, Luca (2005) sobre a imprensa como campo de disputa ideológica e, fundamentalmente, Michel de Certeau (2009) sobre as "estratégias" do poder e as "táticas" de resistência. O conceito de "Governo Invisível" de Wise e Ross (1965) fundamenta a análise das denúncias contra interesses estadunidenses e a formação do SNI, enquanto Loureiro (2020), Roett (1972) e Oliveira (2020) contribuem para analisar o contexto interamericano. Dentre os resultados parciais, estão a compressão acerca da promoção do Jornal do Comércio e do O Semanário como protagonistas na proliferação do nacionalismo-reformista no Piauí, bem como a defesa desse território contra interesses imperialistas. A inteligência americana é destacada tanto na esfera da Aliança para o Progresso quanto na esfera pós-golpe de 1964, observando e registrando a política piauiense. A Revolta Piauiense de 1963 e o golpe de 1964 estão configurados como acontecimentos carregados de censura, monitoramento e resistência. Jornalistas piauienses, marcados pela inteligência brasileira, atuaram cercados por forças autoritárias, censórias e empresariais. Apesar de uma estrutura desfavorável a leituras críticas, o jornalismo piauiense registrou ações pragmáticas não condizentes com os atos da ditadura de 1964, especialmente no âmbito da comunicação radiofônica. Desse modo, essa pesquisa contribui tanto para compreender a imprensa e suas diversas relações de poder, como também ajuda a dimensionar ações de inteligência no território brasileiro tendo o Estado do Piauí como alvo central.