A partir da observação da profícua relação entre a ficção gótica e a escrita feminina ainda no século XVIII, Ellen Moers (1976) classificou o Gótico Feminino como uma categoria crítica que auxiliaria no entendimento das particularidades desse modo narrativo escrito por mulheres. O Gótico de autoria feminina possui temas que são essencialmente pertencentes à experiência feminina, ou seja, os fantasmas, monstros, locus horribilis, assassinos e vilões são desenvolvidos como alegorias para os horrores reais vivenciados por mulheres. Nesse contexto, esta dissertação tem como corpus ficcional as coletâneas de contos As Coisas Que Perdemos no Fogo (2016) e Os Perigos de Fumar na Cama (2009), da escritora argentina Mariana Enriquez, sobre as quais desenvolveremos uma investigação das atualizações contemporâneas formais e elementares do Gótico Feminino. Portanto, nosso objetivo é compreender quais foram as mudanças elementares e formais, como os novos horrores são representados pelo Gótico Feminino e de que forma isso contribui para a consolidação da tradição de escrita feminina naAmérica Latina contemporânea. Para tanto, utilizaremos como base teórica os estudos sobre Gótico como modo estético-narrativo e Horror como gênero-efeito emocional empreendidos por Botting (2024), Sá (2019), França (2016), Bloom (2020), Casanova-Vizcaíno e Ordiz (2020) Carroll (1990), Reyes (2016) e Kristeva (2024); além disso, também recorreremos às pesquisas sobre o Gótico Feminino abordadas por Moers (1976), Santos (2022) e Wallace (2004). Dessa forma, verificaremos o desenvolvimento da construção formal e narrativa da poética do horror proposta por Mariana Enriquez como instrumento de denúncia dos males que permeiam a realidade hodierna sob o viés da experiência feminina.