O romance neorregionalista Quarenta dias (2014), de Maria Valéria Rezende, constitui-se pelos escritos da protagonista Alice, professora de língua francesa aposentada, em seu caderno velho da Barbie – espaço onde reconstrói a sua trajetória de vida através de suas memórias na Paraíba –, bem como escreve sobre seu cotidiano na caótica cidade de Porto Alegre, para onde foi obrigada a se mudar por causa de sua filha Norinha. Através do relato da protagonista-escritora, vemos uma mulher na idade madura que se sente estrangeira numa metrópole completamente oposta a tudo o que conhecia, deparando-se com preconceito, xenofobia e uma jornada de autoconhecimento. Além disso, Alice evoca memórias do período da Ditadura Militar no Brasil, quando conta sobre a morte de seu marido e o seu envolvimento com atividades consideradas subversivas, assim como sua relação conturbada com a filha. À vista disso, o presente artigo tem como objetivo investigar a influência do espaço na construção da personagem principal Alice. Tratando-se da metodologia utilizada, este é um estudo de cunho bibliográfico, de natureza básica, assim como uma análise-crítica qualitativa a partir do método comparatista, o qual baseia-se nas pesquisas de Brito (2017), Brandão (2019), Sarlo (2014), Silva (2022), entre outros. Portanto, os resultados obtidos mostram como a escrita para Alice é uma forma de resistência e de afirmação de si mesma, isto é, como o único espaço seguro em que a personagem possa narrar as suas vivências e percepções de mundo.