A mulher dos pés descalços e Baratas, romances autobiográficos de Scholastique Mukasonga, apresentam uma narrativa que evidencia o contexto de perseguições étnicas e do genocídio em Ruanda no ano de 1994, ocasião em que foram mortas quase um milhão de pessoas da etnia tutsi e hutus moderados. A pesquisa objetiva investigar a escrita de Mukasonga como uma narrativa de filiação que traz a anterioridade como objeto de suas memórias, evidenciando a violência e o contexto do genocídio em Ruanda ocorrido no ano de 1994. Assim, intenta-se investigar que a narrativa de filiação empreendida pela narradora dos romances tem o intuito de evidenciar as suas memórias através das lembranças e vivências de sua mãe Stefânia, de seu pai Cosma, dos irmãos e das irmãs no contexto de guerra e de perseguições étnicas ao longo dos anos no território ruandês, que culminou com o genocídio de mais de 800 mil tutsis e hutus moderados. Para a pesquisa serão considerados os pressupostos teóricos de Appiah (1997); Gourevitch (2006); Khapoya (2015); Said (2003); Gomes (2004); Candau (2023); Hawbachs (2006); Assmann (2011); Pollak (1989,1992); Gagnebin (2006); Seligmann-Silva (2000, 2003, 2008, 2010); Felman (2000); Antonello (2020); Dalcastagnè (1996); Figueiredo (2022); Bernd (2018); Viart (2008, 2019); Demanze (2009); dentre outros. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e bibliográfica, percorrendo os campos da Crítica literária, História, Sociologia, dentre outras áreas importantes para o trabalho. Como resultados espera-se compeender a literatura de filiação da escritora ruandesa como uma forma de evidenciar o exílio, o sofrimento e o massacre de seus pais, familiares e milhares de tutsis em Ruanda. A memória evocada de sua anterioridade são subterfúgios para falar de si própria, dos seus medos, em que suas memórias são postas em evidência, da infância à adolescência, té o momento de sua fuga para sobreviver ao genocídio. Nesse aspecto, a memória individual e coletiva na narrativa de testemunho se apresenta como um fio condutor para a denúncia social dos massacres ocorridos ao longo dos anos, da violência contra os corpos tutsis e, por fim, do genocídio nos meses de abril a julho de 1994.