A presente tese defende a metonímia conceptual não apenas como um fenômeno cognitivo, mas reivindica para esse objeto da língua a sua função estética e a relaciona com uma necessidade intrínseca ao ser humano, cara à experienciação de conceitos e construção de sua visão de mundo. Observamos que, embora a metonímia tenha sido amplamente explorada nos estudos linguísticos como um processo referencial, retórico, ornamental e até cognitivo, sua dimensão estética foi historicamente negligenciada e isso impactou profundamente sua abordagem, principalmente no que tange ao ensino de leitura. Partindo dessa percepção, elaboramos como objetivo central desta pesquisa analisar a metonímia como uma necessidade estética essencial à construção de visão de mundo do ser humano (e leitor). E como objetivos específicos, intentamos: investigar a natureza não cartesiana da leitura, buscando compreender como experiências estéticas moldam a linguagem humana; descrever a ocorrência de experiências estéticas licenciadas por metonímias conceptuais; evidenciar as implicações estéticas da metonímia para a compreensão dos objetos de mundo e da linguagem; colaborar para uma prática de leitura estética capaz de apontar para a subjetividade de nossa natureza humana. Nessa empreitada, nos apoiaremos, sobretudo, nos estudos de Adichie, (2019), Ferrarezi Jr., (2023; 2014; 2008), George Lakoff e Mark Johnson (2022), Dehaene (2022), dentre outros. A hipótese que sustenta esta pesquisa é a de que a metonímia funciona como um mecanismo cognitivo e estético caro à construção de uma visão de mundo (que é estética) auxiliando na experienciação de conceitos e permitindo uma (re)elaboração criativa e subjetiva, servindo tanto à compreensão do significado (pela ótica da semântica cognitiva) quanto ao entendimento das versões que construímos a respeito do “mundo” (sob a ótica do leitor estético). Na busca por alcançar os objetivos aqui formulados e aferirmos a pertinência da hipótese lançada, adotamos uma abordagem qualitativa, com uma metodologia de pesquisa narrativa. Participarão da pesquisa 15 estudantes do terceiro ano do ensino médio do Instituto Federal do Campus Avançado de Pio IX, cujas experiências de leitura serão analisadas por meio de rodas de conversa e relatos pessoais. A análise ocorrerá de forma manual e interpretativa, ou seja, sem uso de softwares, focando na identificação e descrição de como os alunos compreendem e reelaboram as metonímias intercambiando com sua visão de mundo. O método narrativo é escolhido neste estudo por possibilitar que seja dada voz aos participantes (leitores), permitindo, assim, uma compreensão mais profunda das suas percepções sobre a metonímia e seu imbricamento com a construção de significados e a visão de mundo. A justificativa para esta pesquisa reside na lacuna existente nos estudos linguísticos, que historicamente relegaram a metonímia ao campo da racionalidade cartesiana, sem considerar sua importância estética e perceptual. Ao preencher essa lacuna, nossa pesquisa busca ampliar a compreensão da metonímia, destacando sua função não apenas como recurso cognitivo, mas como um mecanismo essencial na experiência estética humana, ao tempo que também contribui para o campo da leitura, pois reivindica o olhar para o leitor como um ser também estético. Dessa forma, a tese que propomos defender visa contribuir para uma pedagogia que reconheça a leitura e a interpretação como processos estéticos, centrados no ser humano e leitor, auxiliando em uma construção de visão de mundo mais subjetiva, criativa, estética e que tenha de fato significado para a vida.