Esta pesquisa visa apresentar uma análise dos relatos de sobriedade proferidos por membros de um grupo afiliado à irmandade Alcoólicos Anônimos (AA), localizado em Teresina - Piauí. Partindo da hipótese de que os princípios evidenciados pela irmandade Alcoólicos Anônimos impactam na forma como os envolvidos se autorrepresentam por meio da interação, elaboramos como objetivo geral analisar as representações do “eu” evidenciadas no evento em foco. Para tanto, intentamos: descrever a organização das dinâmicas interacionais dos membros do grupo Alcoólicos Anônimos; identificar as dinâmicas de footing manifestadas durante a produção dos relatos de sobriedade; analisar as representações sociais suscitadas pelos participantes no cenário contextual das reuniões do grupo AA. Com base nisso, a pesquisa fundamenta-se por meio dos estudos interacionais, particularmente quanto aos que foram desenvolvidos por John Gumperz (2020; 1998), Bortoni-Ricardo (2014) e Erving Goffman (2020; 2011; 2002; 2000; 1998), articulados de modo interdisciplinar aos estudos das representações sociais, defendidos por Serge Moscovici (2007; 1978) e Denise Jodelet (2015; 2009; 2001). Como alicerce metodológico, adotamos uma abordagem qualitativa e descritiva, com elementos do método etnográfico. Os dados foram obtidos a partir de três passos principais: i) observação do contexto do grupo Alcoólicos Anônimos; ii) aplicação da entrevista semiestruturada aos membros; iii) gravação em áudio dos relatos de sobriedade apresentados. Os resultados parciais revelam que o programa de recuperação proposto pelo AA reconhece a interação como âncora para a formação de uma rede de apoio mútuo. Nesse sentido, a organização das dinâmicas interacionais do grupo em foco evidenciam que as reuniões seguem uma estruturação padronizada, dividida em etapas e relacionada com os princípios gerais da irmandade. Desse modo, as orientações do coordenador e a apresentação dos relatos pelos membros são produzidas conforme o enquadre interativo do grupo. Em suma, os relatos compartilhados enfatizam os impactos negativos do álcool e destacam a qualidade de vida adquirida por meio da integração do sujeito no grupo, promovendo a ideia de que os princípios viabilizados pela irmandade são eficazes para alcançar o propósito basilar dos participantes: a manutenção da sobriedade.