RESUMO: Introdução: A endocardite infecciosa (EI) representa um risco para crianças com cardiopatias congênitas ou portadoras de próteses valvares, podendo ser originada de uma bacteremia associada a procedimentos odontológicos invasivos. Dentre os micro-organismos mais envolvidos com esse quadro, destacam-se os estreptococos do grupo viridans, conhecidos por seus perfis de virulência que envolvem a adesão e formação de biofilme. Para contornar esse risco, uma profilaxia antibiótica (PA) com amoxicilina (AMX) é recomendada. Entretanto, a crescente resistência dos estreptococos orais a esse antibiótico compromete a PA convencional, ressaltando a necessidade da utilização de antibióticos alternativos, bem como de métodos que possam minimizar tal bacteremia, como o uso de antissépticos. Objetivo: Avaliar o perfil fenotípico de adesão e formação de biofilme de estreptococos orais resistentes à AMX, bem como a susceptibilidade de tais micro-organismos a antibióticos alternativos e à clorexidina (CHX). Materiais e Métodos: Vinte e cinco cepas de estreptococos resistentes à AMX, isolados de crianças cardiopatas com risco de EI, foram analisadas por meio de testes in vitro. O ensaio de adesão à matriz extracelular (MEC) foi realizado avaliando-se a adesão inicial (90 minutos) das cepas a poços de placa contendo colágeno tipo I murino. A formação de biofilme por 24 horas foi verificada pelo método de coloração por cristal violeta. Os ensaios antimicrobianos foram realizados pelo método de difusão em ágar, utilizando-se discos dos seguintes antibióticos: azitromicina (AZI); claritromicina (CLA); eritromicina (ERI) e clindamicina (CLI), em que também se verificou a presença dos fenótipos M e MLS. A concentração inibitória mínima (CIM) da CHX sobre os isolados foi determinada, bem como seu efeito, na concentração de 0,12%, sobre os biofilmes dos estreptococos, por meio do ensaio metabólico do XTT. Os dados foram analisados estatisticamente utilizando-se análise de variância de uma ou duas vias, seguida dos pós-testes adequados para cada experimento. Resultados: Em relação à adesão à MEC, a maioria dos estreptococos resistentes à AMX (93%) apresentaram uma forte capacidade de adesão ao colágeno. Ademais, 64% foram classificados como fortes formadores de biofilme, 24% como moderados e 12% como fracos. Observou-se alta prevalência de isolados resistentes aos macrolídeos - AZI (60%), CLA (60%) e ERI (60%) - enquanto a CLI manteve a eficácia para 96%. Uma cepa apresentou perfil de multirresistência. A CIM da CHX foi de 2 µg/mL para todos os isolados. O tratamento com CHX eliminou completamente a viabilidade de todos os biofilmes avaliados (p<0,0001). Conclusão: Os estreptococos avaliados apresentaram fenótipos de elevados padrões de adesão à MEC, bem como de formação de biofilme. Além disso, foi constatada uma alarmante prevalência de cepas resistentes aos macrolídeos. Por outro lado, a CHX mostrou-se um eficaz antimicrobiano sobre a viabilidade dos estreptococos resistentes, tanto planctônicos, quanto em formato de biofilme.
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