A inflamação é um mecanismo de proteção natural no qual o organismo designa atividades do sistema
imunológico para combater infecções, eliminar moléculas tóxicas ou recuperar-se de lesões, no entanto, quando
exacerbada, se torna uma condição clínica no qual o sistema imune, através das citocinas e quimiocinas contribui
para a formação de espécies reativas de oxigénio levando a condições de estresse oxidativo, que por sua vez,
agravam ou desencadeiam quadros inflamatórios causando danos teciduais irreversíveis e contribuindo para o
desenvolvimento de doenças crônicas como hipertensão e diabetes. Devido a isto, é muito frequente que
pacientes diabéticos sofram com anormalidades das células cardíacas devido ao estresse oxidativo induzido pela
hiperglicemia, que por sua vez intensifica ainda mais a depleção da membrana miocárdica por meio da resposta
inflamatória. Embora haja muitas medicações para o tratamento destas comorbidades, sendo grande parte destas
sintética, estes fármacos acabam por gerar diversas reações adversas, seja por sua biodisponibilidade, interações
medicamentosas, metabolismo ou excreção, e é devido a isto que se vem estudando cada vez mais a
biodiversidade dos produtos naturais como otimização do tratamento das condições clínicas. Tendo este princípio
e devido a sua diversidade estrutura, diferentes tipos de flavonoides são continuamente estudados para avaliar
suas propriedades farmacológicas como ações antioxidantes, atividades anti-inflamatórias, antidiabéticas e anti-
hipertensivas. Pertencente a classe dos flavonoides, a naringenina se destaca por estas ações farmacológicas, no
entanto pouco se sabe sobre sua forma glicosilada, e devido a sua conformação estrutural este flavonoide possui
baixa biodisponibilidade no organismo, sendo a complexação com β-ciclodextrinas um dos métodos utilizados
para melhorar a solubilidade da naringenina. Com o intuito de reunir informações sobre as propriedades
farmacológicas supracitadas, este trabalho realizou uma pesquisa por estudos pré-clínicos sobre a Naringenina-7-O- βeta -D-glicosídeo complexado com ciclodextrinas (NAR-7-O-G/β-CD) em plataformas bibliográficas –
(BVS, Science Direct, Pubmed e Web os Science), assim como busca pelas patentes nas plataformas (EPO, INPI
e WIPO) (Capítulo I); resultando em 31 artigos elencados para análises e 5 depósitos de patentes; Em seguida
foi feito um estudo da naringenina glicosilada (NAR-7-O-G) em relação a naringenina não glicosilada na fração
7 (NAR) para avaliar suas diferenças entre as características farmacocinéticas e as propriedades físico-químicas
por predições ADMET e técnicas de ancoragem molecular (Capítulo II) revelando que que a NAR-7-O-G se
enquadra tanto nas regras de Lipinsk como possui alta afinidade de ligação com alvos proteicos envolvidos nos
processos inflamatórios, antioxidantes, antidiabéticos e anti-hipertensivos possuindo por tanto possíveis ações
moduladoras nestes sítios ativos; E a fim de verificar as ações do complexo NAR-7-O-G/β-CD, realizaram-se
testes in vitro para identificar as capacidades terapêuticas antioxidantes, anti-inflamatórias, antidiabéticas e anti-
hipertensivas (capítulo III), e através de testes de hemocompatibilidade com sangue humano O+, verificou-se
uma taxa de hemólise menor que 2% em diferentes concentrações da NAR-7-O-G/β-CD, tendo como resultados
destes estudos um indicativo de que a estrutura glicosilada deste flavonoide estando complexada com
betaciclodextrina possui potencial como agente terapêutico frente as comorbidades abordadas.