A dor neuropática é uma condição dolorosa causada por lesões (traumas e cirurgias) por doenças (diabetes, hanseníase, câncer) ou induzidas por fármacos antirretrovirais ou quimioterápicos, como o paclitaxel (PACLI). O tratamento da dor neuropática é limitado pela pouca eficácia dos medicamentos utilizados e pelos sérios efeitos adversos, como o desenvolvimento de tolerância relacionado ao uso prolongado dos opiódes. O Acetato de nerila (AcN), derivado do nerol, ainda não possui perfil toxicológico (utilizando modelos alternativos) e atividade antinociceptiva em modelos animal de dor crônica descritas na literatura. Desse modo, o objetivo desse estudo foi avaliar a toxicidade, utilizando modelos alternativos, do AcN e a sua atividade antinociceptiva, bem como os possíveis mecanismos de ação envolvidos. Primeiramente, realizou-se a análise química (CG-EM e termogravimetria) do AcN obtido comercialmente. Os resultados confirmaram a natureza química do monoterpeno utilizado. Buscando otimizar a investigação do potencial farmacológico do biocomposto, realizou-se a avaliação in sílico ADMET utilizando as ferramentas computacionais admetSAR e ProTox-II. O AcN apresentou valor preditivo positivo para absorção pela barreira hematoencefálica, trato gastro intestinal e permeabilidade por Caco-2 e DL50 de 5000 mg/kg. Para investigar a ação do AcN sobre a viabilidade de células de câncer humano MDA-MB-231 (5 x 103 células / poço), incubo-o por 72h em concentrações crescentes. Pelos achados, o monoterpeno não foi capaz de reduzir a viabilidade desta linhagem de células (p < 0,05). A neuroproteção em células de glioblastoma humano U-87 foi investigada incubando PACLI e AcN por 72h. Pelos resultados obtidos, na proporção de 1:100 de PACLI para AcN ocorreu aumento do viabilidade de células expostas ao quimioterápico (p < 0,05). Como a neurotoxicidade do PACLI está relacionada com o estresse oxidativo, a atividade antioxidante do AcN foi avaliada em linhagens de Saccharomyces cerevisiae proficiente e mutadas em enzimas antioxidantes. Os resultados sugerem que o monoterpeno não oxida o material genético de S. cerevisiae, apresentando atividades antioxidantes na modulação dos danos oxidativos induzidos pelo peróxido de hidrogênio, para as linhagens SODWT, Sod1Δ, Sod2Δ, Sod1/Sod2Δ, Cat1Δ, Cat1/Sod1Δ. Na avaliação do potencial irritante através do ensaio HET-CAM, o AcN foi classificado como irritante leve (score 3,0). No bioensaio com Artemia salina, a CL50 obtida foi de 45,28 µg/mL (p < 0,05). No entanto, no teste de toxicidade aguda em larvas de Zophobas morio, não foi observado mortes nos grupos tratados com as doses de AcN. No modelo alternativo de zebrafish (Danio rerio) adulto, o AcN não apresentou toxicidade de 96h. Na avaliação antinociceptiva, com o modelo nociceptivo da formalina, mostrou propriedades analgésicas através do canal TRPA1 em zebrafish adulto na fase aguda. Os resultados obtidos permitem inferir que o AcN possui perfil toxicológico seguro e características farmacológicas que o enquadram como potencial fármaco para o tratamento de neuropatia induzida por PACLI.