Esta tese analisa de que modo o Observatório das Infâncias e Juventudes na Educação (OBIJUVE), em articulação com o Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Piauí (PPGEd/UFPI), constitui-se como um abrigo das diversidades sexuais de jovens LGBTQIA+ e, também, em campo de resistência, formulação de políticas de cuidado e produção de uma ciência interseccional. Dados recentes reforçam a urgência dessa reflexão, como por exemplo os dados veiculados pelo Boletim de Violência contra a Pessoa LGBTQIAPN+, lançado pela Secretaria de Segurança Pública do Piauí (2023), que registrou 849 ocorrências, quase metade envolvendo jovens de 15 a 29 anos, majoritariamente pardos ou pretos (64%) e residentes em Teresina. Esses números materializam a necropolítica que atravessa vidas dissidentes e colocam em evidência a responsabilidade da universidade em não reproduzir, em seu interior, práticas educativas excludentes e de morte. O problema que orienta a pesquisa realça a invisibilização e a fragilidade de condições institucionais que atravessam estudantes LGBTQIA+ na UFPI, revelando tensões intimamente ligadas à permanência, ao reconhecimento e à legitimidade da diversidade sexual como categoria política e epistêmica. Esse cenário é agravado tanto pela ausência de políticas de ações afirmativas específicas para a população LGBTQIA+ quanto pela força de olhares conservadores que hostilizam, resistem e dificultam a formulação dessas políticas, reafirmando exclusões históricas. O percurso metodológico nasce de um corpo implicado que cartografa e se deixa afetar: realizei buscas sistemáticas na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), no Catálogo da CAPES e no Repositório Institucional da UFPI, movimento que revelou o OBIJUVE vinculado ao NEPEGECI como território fecundo de pesquisa e formação. O inventário registra 54 trabalhos de Iniciação Científica (IC), 44 Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), 21 dissertações de mestrado e 10 teses de doutorado, compondo um acervo que expressa mais de uma década de práticas de formação e pesquisa, organizado desde 2010, constitui memória coletiva de práticas e sujeitos; diante de sua amplitude, adoto um recorte: oito pesquisas (cinco dissertações e três teses, 2013–2023) diretamente vinculadas à diversidade sexual e de gênero. Metodologicamente, integro sociopoética, cartografia, escrita de si e análise documental, assumindo o corpo como categoria epistêmica e a escrita como gesto político. O objetivo geral consiste em compreender como o OBIJUVE, em diálogo com o PPGEd/UFPI, configura-se como abrigo para jovens LGBTQIA+ e como campo fértil de resistências, ações afirmativas e políticas de cuidado voltadas à construção de uma Educação Inclusiva e de uma ciência interseccional. Como objetivos específicos, mapeio produções do OBIJUVE sobre diversidade sexual, resistências e cuidado; analiso sua articulação com a linha “Educação, Diversidade/Diferença e Inclusão” como espaço de acolhimento e enfrentamento às normatividades acadêmicas; e descrevo conexões formativas entre OBIJUVE e PPGEd/UFPI. Resultados parciais indicam práticas educativas insurgentes, redes de cuidado e processos formativos em que a diversidade sexual se firma como eixo central, com casos paradigmáticos presentes no inventário; igualmente, evidenciam a persistência de lacunas institucionais que demandam políticas afirmativas. Delineia-se, assim, o OBIJUVE como contra-arquivo vivo e espaço de transeducação, no qual juventudes LGBTQIA+ emergem não como vítimas passivas, mas como protagonistas de reinvenções epistemológicas e políticas; por meio da escuta, do afeto e da valorização de saberes plurais, o Observatório tensiona limites institucionais, propõe uma pedagogia do cuidado e oportuniza, de fato, a existência de uma Educação Inclusiva comprometida com a diversidade e a justiça social — movimento no qual também me afirmo pesquisador-professor-artista-gay e no qual se inscrevem trajetórias de estudantes que transicionaram na universidade, afirmando suas existências em meio a um espaço historicamente marcado por silenciamentos e resistências conservadoras.