A presente pesquisa tem como objeto de estudo a análise da política de operacionalização dos manicômios judiciários, enquanto dispositivos centrais na construção de processos sociais de sujeição, a partir da articulação entre loucura, periculosidade e poder. A investigação parte da problematização dos discursos científicos da medicina e do Judiciário que, ao longo da história, conformaram o sujeito “louco-criminoso” e legitimaram práticas de exclusão e controle. O estado do Piauí constitui o locus empírico da análise, possibilitando a observação das formas locais de gestão da loucura associada ao crime, dentro de um contexto mais amplo de institucionalização da anormalidade.
A pesquisa percorre a genealogia do crime e da loucura, fundamentada na teoria pós-estruturalista de Michel Foucault e na criminologia crítica de Raúl Zaffaroni, em diálogo com autores contemporâneos. É nesse entrecruzamento entre saber e poder, particularmente no cenário da modernidade, que os discursos ganham força normatizadora e disciplinar. O trabalho contempla ainda a trajetória histórica da figura do “louco-criminoso”, desde sua consolidação no contexto europeu até sua transposição e adaptação ao modelo brasileiro, com foco especial no funcionamento das instituições manicomiais judiciárias no Piauí. Para tanto, recorre-se também à Sociologia das Ausências, proposta por Boaventura de Sousa Santos, como instrumento analítico para revelar silêncios e invisibilidades nos processos de produção social da loucura criminalizada.