Etnomicologia, ramo das Etnociências que pesquisa a relação dos seres humanos com os fungos, é uma ciência recente. A pesquisa etnomicológica permite uma melhor compreensão do uso de macrofungos por grupos étnicos e fornece uma imagemA pesquisa etnomicológica permite uma melhor compreensão do uso de macrofungos por grupos étnicos e fornece uma imagem mais clara da cosmovisão que as pessoas têm sobre a ecologia, uso, classificação e conservação dos macrofungos. Objetivou-se com o estudo investigar e sistematizar o conhecimento tradicional dos povos originários Guajajara sobre os macrofungos, destacando sua diversidade e percepção, apresentando revisão sistemática do tema, importância ecológica e usos tradicionais, a fim de desenvolver uma cartilha educativa que promova a conservação destes organismos nas aldeias indígenas. A pesquisa se delineou nos seguintes questionamentos: Como os fungos são percebidos no ambiente e como é transmitido o conhecimento etnomicológico entre as gerações? Há usos das espécies e como resgatar esse conhecimento para conservá-las? Duas Hipóteses foram elencadas : Os Guajajara conhecem e fazem uso dos macrofungos encontrados no ambiente e que eles transferem o conhecimento etnomicológico ao longo das gerações. As Aldeias Pé de Galinha e Três Irmãos da em Barra do Corda/MA, foram escolhidas para a realização do estudo. Como aportes metodológicos, foi utilizado na análise qualitativa, as técnicas do rapport, turnês-guiada, caderno de campo, checklist-entrevista e entrevista semiestruturada. O valor de uso, índice de diversidade de Shannon-Weiner, índice de Sørensen e Método Prisma, foram utilizados para análise quantitativa. O material coletado foi incorporado ao Herbário Graziela Barroso (TEPB) da UFPI. O Universo amostral contou com 96 indígenas, entre jovens, adultos e idosos. Os resultados revelaram que os Guajajara reconhecem e já fizeram uso de pelo menos seis espécies das documentadas. Concordaram que Auricularia tremellosa (Fr.) Pat. foi usada na alimentação dos antepassados. Na ludicidade: Calvatia rugosa (Berk. & M.A. Curtis) D.A. Reid, Geastrum hariotii Lloyd. e G. javanicum Lev. e ocasionalmente para fins medicinais citaram o Pycnoporus sanguineus (L.) Murrill e Lentinus crinitus (L.) Fr. O Valor de Uso não foi tão expressivo. A transmissão vertical foi a responsável pela dinâmica do conhecimento sobre os macrofungos. Embora o interesse pela Etnomicologia tenha avançado nos últimos anos, poucos estudos (6,6%) foram conduzidos com povos indígenas do Brasil, recuperando 15 trabalhos sobre a temática entre 2014 a 2024. As comunidades urbanas (27%) e rurais (67%) tiveram maior representatividade que as indígenas (6%). A região Nordeste foi a que obteve maior destaque nas publicações (46%). Documentou-se 42 espécies dos filos Basidiomycota e Ascomycota. A família Polyporaceae foi a melhor representada, com nove espécies catalogadas. A maioria das espécies é sapróbia (65%). O índice de Sørensen revelou alta similaridade entre as aldeias (0,41) e maior diversidade de Shannon encontrada na Aldeia Três Irmãos. Para os Guajajara, a estação chuvosa (88%) é o período que os macrofungos mais aparecem, e crescem em sua maioria nos troncos das arvores (51%). Dado o exposto, podemos assegurar que essas aldeias não possuem total aversão aos macrofungos, sendo consideradas parcialmente micofílicas. Mais estudos são necessários para a divulgação da Etnomicologia entre os povos originários, com vistas a minimizar as lacunas sobre a biodiversidade e conservação fúngica, sobretudo para o estado do Maranhão.