Introdução: A saúde dos professores escolares é uma preocupação global, sendo reconhecido o elevado númerode adoecimentos de professores, especialmente no contexto brasileiro. Embora existam dados sobre esses problemas, muitas análises são baseadas no comportamento dos trabalhadores e não compreendem os problemas de forma sistêmica, limitando a prevenção destes agravos. Acredita-se que a Teoria da Atividade Histórico-Cultural (TAHC) pode oferecer uma visão sistêmica, considerando as relações complexas entre os elementos envolvidos na atividade escolar, e com isso proposição de soluções mais efetivas.Objetivo:Analisar a atividade docente em uma escola pública e sua relação com os aspectos relacionados à saúde de professores de escola pública estadual à luz da TAHC.Métodos: Estudo qualitativo com professores do ensino fundamental II de uma escola pública estadual. Foram realizadas observações de parte de atividades de aula, recreio, entrada e saída escolar, horário pedagógico, recepção de equipe da Gerência Regional de Educação (GRE), 16entrevistas semiestruturadas com onze professores, um diretor, uma coordenadora, uma auxiliar de cozinha, duas auxiliares de serviços gerais, dentre elas, uma também é mãe de aluno, análise documental e diário de campo. As entrevistas foram transcritas e analisadas a partir da Teoria da Atividade Histórico-Cultural.Resultados:a elaboração da linha do tempo dos eventos históricos críticos auxiliaram a compreender como se constituiu o sistema de atividade atual. No qual, destacaram-se três contradições entre seus elementos: a contradição secundária entre regra (educação em tempo integral) versusos instrumentos (insuficiência de recursos humanos, materiais e infraestrutura); a contradição secundária entre objeto (formação integral e o pleno desenvolvimento dos estudantes)versus a divisão de trabalho (subdimensionamento do quadro de professores) e a contradição secundária entre a comunidade (distanciamento da rede socioassistencial) versus o objeto (formação integral e desenvolvimento pleno do aluno), que contribuem para ocorrência de quadros de fadiga e exaustão, fragilidade emocional, tristeza, ansiedade, estresse, revolta e medo, quadros pouco reconhecidos e cuidados. Além disso, sinais de quadro psicossomáticos e da indissociabilidade entre saúde física e mental foram recorrentes. A pandemia da COVID-19 contribuiu para o aumento de agravos à saúde física e mental, relacionados à precarização do trabalho docente, sob a influência de diversos fatores como a quebra de vínculo profissional, a pressão psicológica sofrida, aumento de carga horária e as condições inadequadas de trabalho.Conclusão: A descrição e análise da atividade dos professores do ensino fundamental II a partir da TAHC, possibilitou a identificação de impactos que essa atividade impõe à saúde mental desses professores e contribui para reflexão acerca de proposta de melhorias que impactem a Saúde mental coletiva nesse cenário.