Introdução: A saúde dos professores escolares é uma preocupação global, sendo reconhecido o elevado número de adoecimento, especialmente no contexto brasileiro. Embora existam dados sobre esses problemas, muitas análises são baseadas no comportamento dos trabalhadores e não compreendem os problemas de forma sistêmica, limitando a prevenção destes agravos. Assim, acredita-se que a Teoria da Atividade Histórico-Cultural (TAHC) pode oferecer uma visão sistêmica, considerando as relações complexas entre os elementos envolvidos na atividade escolar, e com isso proposição de soluções mais efetivas. Objetivo: Analisar as relações entre a atividade docente em ensino integral e a saúde mental de professores à luz da TAHC. Métodos: Estudo qualitativo com professores do ensino fundamental II de uma escola pública estadual. A coleta de dados aconteceu no período de março a junho de 2024, na qual foram realizadas observações de parte de atividades de aula, recreio, entrada e saída escolar, horário pedagógico, recepção de equipe da Gerência Regional de Educação (GRE), 16 entrevistas semiestruturadas com onze professores e outras pessoas envolvidas direta ou indiretamente com a atividade docente escolar, análise documental e diário de campo. As entrevistas foram transcritas e analisadas a partir da Teoria da Atividade Histórico-Cultural. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí, sob o parecer nº 76969424.00000.5214. Resultados: A elaboração da linha do tempo dos eventos históricos críticos do desenvolvimento da atividade docente auxiliou a compreender como se constituiu o sistema de atividade atual. Foram identificadas transformações dos elementos da atividade desde a inauguração da escola em 1993 até 2024. Destacaram-se três contradições entre os elementos do sistema de atividade dos professores: a contradição secundária entre regra (educação em tempo integral) versus os instrumentos (insuficiência de recursos humanos, materiais e infraestrutura); a contradição secundária entre objeto (formação integral e o pleno desenvolvimento dos estudantes) versus a divisão de trabalho (subdimensionamento do quadro de professores) e a contradição secundária entre a comunidade (distanciamento da rede socioassistencial) versus o objeto (formação integral e desenvolvimento pleno do aluno), que contribuem para ocorrência de quadros de fadiga e exaustão, fragilidade emocional, tristeza, ansiedade, estresse, revolta e medo, quadros pouco reconhecidos e cuidados. Além disso, sinais de quadros psicossomáticos foram recorrentes nas falas dos entrevistados. A pandemia da COVID-19 contribuiu para o aumento de agravos à saúde física e mental, relacionados à precarização do trabalho docente, sob a influência de diversos fatores como a quebra de vínculo profissional, a pressão psicológica sofrida, aumento de carga horária e as condições inadequadas de trabalho. Conclusão: A descrição e análise da atividade dos professores do ensino fundamental II a partir da TAHC possibilitou a identificação de impactos que essa atividade impõe à saúde mental desses professores e contribui para reflexão acerca de proposta de melhorias que impactem na saúde mental coletiva nesse cenário.