A presente pesquisa objetiva compreender os significados partilhados e os
sentidos atribuídos à maternidade por mulheres (mães), em situação de violação
de direitos, acompanhadas pelo CREAS na cidade de Parnaíba-PI e implicações
nas suas produções subjetivas. Entendemos que as vivências da maternidade se
expressam de diferentes formas, são polissêmicas e multideterminadas, que ainda
guardam padrões extremamente rígidos e impositivos apoiados em significados
culturalmente compartilhados de que o cuidado com os filhos cabe,
essencialmente, à mulher. Com foco nos determinantes psicossociais da
desigualdade e suas implicações no processo de maternagem, adotamos a
pesquisa exploratória, descritiva de caráter qualitativo utilizando a escuta ativa de
usuárias do CREAS por meio de entrevistas semiestruturadas e encontros
previamente articulados. Trabalhadoras do serviço também foram ouvidas para
aprofundamento do tema em questão. Os marcadores analíticos foram guiados
pela categoria do sofrimento ético-político, os aportes da psicologia crítica e do
feminismo decolonial. Os resultados do estudo evidenciam significados de
maternidade arraigados, nos dois grupos trabalhados: a maternagem como papel
natural da mulher, mas, as narrativas também apresentam fraturas/contradições
que indicam processos de ruptura com o que está socialmente determinado
evidenciando dores invisibilizadas e indizíveis no cotidiano da maternagem
provocadas, principalmente, pelo solitário percurso de cuidado com os filhos; as
barreiras de acesso ao trabalho; a abdicação “imposta” pela função de ser mãe e a
culpabilização frente aos problemas que se apresentam. “Então não sou uma boa
mãe?”, é a pergunta que ecoa e que deve ser reverberada nas ações do serviço.