Monitoramento ecológico de moscas-das-frutas (Diptera; Tephritidae) e percepção entomológica em uma comunidade rural de União (PI), Brasil
conhecimento tradicional; etnoentomologia; etnotaxonomia
A interação do homem com a natureza observada principalmente em populações tradicionais indígenas e não-indígenas proporciona às mesmas uma relação íntima com os organismos. A Etnoentomologia, como uma Etnociência, parte de uma visão interdisciplinar para desvendar a lógica existente por trás dos conhecimentos, crenças, taxonomia e sistemática desenvolvidos sobre a entomofauna. De acordo com tais conceitos objetivou-se caracterizar o conhecimento entomológico tradicional existente na comunidade de Novo Nilo, União, Piauí, visando conhecer a participação da entomofauna na cultura local. Foram realizadas entrevistas com auxílio de formulários semiestruturados, com questões abertas e fechadas com os moradores locais, realizadas turnês-guiadas, registros fotográficos e conversas informais; foram também calculados índices de usos relacionados aos insetos na comunidade. Entrevistaram-se um total de 61 moradores, constatando-se como pertencentes ao etnodomínio “inseto” os seguintes animais: abelha, formiga, borboleta, libélula, cigarra, barata, gafanhoto, paquinha, cavalo-do-cão, marimbondo, grilo, besouro, muriçoca, potó, mosca, besouro serra-pau, cobra, escorpião, aranha, carrapato, camaleão, lagartixa, sapo, piolho-de-cobra, embuá, rato, morcego e minhoca. Observou-se uma participação visível do etnodomínio no pensamento da população, caracterizada amplamente por uma visão negativa, mas também existindo contradições quanto à percepção positiva ou negativa, corroborando com a hipótese da ambivalência entomoprojetiva. Na descrição dos insetos pertencentes à categoria lineana se destacou por uma maior riqueza de informações o grupo dos himenópteros (abelhas, marimbondos, cavalo-do-cão), responsáveis por artropodoses, sendo identificadas etnoespécies de abelhas (4) e marimbondos (5), e as pragas das lavouras locais: formiga saúva e lagarta-do-milho. A utilização dos insetos ocorre na alimentação e medicina local, tanto humana, quanto animal, registrando-se o consumo de larvas de coleópteros (gongo-do-côco) presentes nos frutos de palmeiras e uso do mel para o combate da tosse e gripe. O conhecimento entomológico tradicional local se mostrou relevante evidenciando a interação da população com a entomofauna local nas suas atividades cotidianas tendo como principais usos a abelha (medicinal) e libélula (lúdico).