"A CARNE É FRACA? " PERCEPÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DA PRODUÇÃO E CONSUMO ALIMENTAR
cidadania ambiental; consumo de carnes; percepção; impactos ambientais.
Os padrões de produção e consumo representam uma das temáticas necessárias para a
reflexão acerca da relação entre sociedade e ambiente. Nesse contexto, insere-se o
campo da alimentação porque constitui um campo de disputas específicas e apresenta
dilemas relativos à produção e distribuição de alimentos nas sociedades
contemporâneas. Atenta-se para a alimentação enquanto tomada de decisão que influi
coletivamente, pois ultrapassa a esfera privada das preferências individuais,
recomendações nutricionais e médicas, passando a atuar na esfera pública. Sendo
também um cidadão, o consumidor torna-se agente ambiental nas suas práticas
alimentares. Nesta pesquisa, essa relação com o consumo e com o exercício da
cidadania ambiental e a prática alimentar foi aprofundada a partir da discussão sobre o
consumo de carnes. Partiu-se do reconhecimento de que as carnes possuem grande
representação no processo de alimentação humana. A perspectiva aqui proposta abarcou
elementos socioculturais, religiosos, econômicos e éticos que possibilitaram um enfoque
ambiental. Objetivou-se, pois, analisar a(s) percepção(ões) de consumidores sobre os
impactos ambientais da produção e do consumo de carnes. Participaram desta pesquisa,
consumidores que inserem carne na sua dieta alimentar. Todos foram esclarecidos a
respeito da pesquisa e convidados a assinar o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE) de forma individual e em grupo. Optou-se pela técnica de grupo
focal como ferramenta primeira e pela entrevista individual em profundidade como
complemento na obtenção das informações, as quais passaram pela Análise de
Conteúdo Temática. Verificou-se que os participantes não se posicionam como cidadãos
nas suas práticas alimentares e no consumo de carnes e apontam o mercado como
grande influenciador no processo perceptivo, dificultando o olhar reflexivo-sensível e a
reação do consumidor perante as forças do mercado. Constatou-se uma visão
egocêntrica em relação ao consumo de carnes, prevalecendo a preocupação com a saúde
tanto para o consumo quanto para o não consumo ou sua redução. Observou-se que os
consumidores não reconheciam a discussão sobre consumo sustentável e não percebiam
o consumo de carnes como gerador de impactos ambientais. Em relação a propostas
politizadoras como a “Segunda sem Carne”, apresentaram-se algumas contradições
quanto à sua importância e algumas resistências à sua implementação, bem como a
desconsideração da tríplice que fundamenta a campanha. Verificou-se ainda, uma visão
egocêntrica em relação à questão ambiental e, portanto, uma percepção dissociada do
ambiente. Por fim, espera-se que esta pesquisa possibilite uma reflexão sobre o
exercício da cidadania no contexto das práticas alimentares e do consumo de carnes e
que sejam realizadas ações voltadas à construção de uma percepção ambiental, pois, a
partir do seu pensar no espaço e vivê-lo no tempo, das suas percepções sobre a
realidade, os sujeitos podem manifestar sua leitura sobre o mundo e reorientar-se nessa
relação.