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Banca de QUALIFICAÇÃO: DEIVISON WARLLA MIRANDA SALES

Uma banca de QUALIFICAÇÃO de MESTRADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE: DEIVISON WARLLA MIRANDA SALES
DATA: 08/12/2021
HORA: 14:30
LOCAL: Google Meet
TÍTULO: Uma clínica que pensa com os pés onde pisa: cartografias da clínica com subjetividades periféricas
PALAVRAS-CHAVES: clinica, experiencias
PÁGINAS: 50
GRANDE ÁREA: Ciências Humanas
ÁREA: Psicologia
RESUMO:

Introdução: Saúdo os mais velhos, os mais novos e os meus iguais e para abrir caminhos para esta escrita, peço licença a Èṣú Operador dos processos de comunicação e transmutação abertura e fechamento, Exu habita os territórios do caos, da multiplicidade, da erosão das dicotomias e afirmação das singularidades para além dos regimes de julgamento balizados pela norma, pela forma, pela moral. A ordem que se firma pelo caos, a justiça que se produz por meio de uma luta contra a injustiça, simbologia de uma queda das oposições maniqueístas e afirmação dos entrecruzamentos díspares na composição de possíveis1. Neste estudo, as encruzilhadas têm lugar como signo e operador epistêmico para compor trânsitos e interseções, transversalizações e tangenciamentos, movimentos de outramento e hibridismos estéticos, utilizadas como afirmação da diferença, da multiplicação de possíveis a partir dos seus entrecruzamentos2 . Habitar entremeios de terrenos tidos como dicotômicos faz parte dos meus passos há muito tempo: arte e ciência, malandro e menino, clínica e política, fala e escuta, militância e universidade. Eis que Èṣú tomado como intercessor se coaduna ao modo como meu corpo-pesquisador escolhe como disparador dos problemas que me forçam a pensar as vidas que atravessaram meu ethosclínico, sobretudo no contexto da rua desde uma atuação como militante da luta antimanicomial no projeto Parnaíba Invisível em Parnaíba-Piauí, em 2014, à atuação como psicólogo no Programa Corra pro Abraço3 em Feira de Santana-Bahia em 2018. Para este projeto de uma cartografia da clínica com subjetividades periféricas, parto da seguinte indagação: Pode a clínica escutar a(o) subalterna(o)? Esta torção da famigerada pergunta de Gayatri Spivak4 inspira inquietações a respeito do modo como a clínica psi produz sua escuta. Interessa a esta pesquisa especificamente o encontro da clínica com o que estamos chamando de subjetividades periféricas, como forma de se referir às vidas que estão afastadas dos diversos centros: políticos, sociais, econômicos, étnico-raciais, de gênero e sexualidades, etc. Marcadas por 75 relações de exclusão, opressões, precarizações, as subjetividades periféricas são vistas neste estudo como produtos de processos de colonizaçãoque se atualizam em estratégias mais sofisticadas, investindo além do corpo biológico e alcançando os processos de subjetivação em suas múltiplas faces5,6,7 . Não obstante, as subjetividades periféricas também fazem in-surgir movimentos de resistência como modo de afirmação de existência em potência. Interessado nos movimentos dos territórios existenciais das subjetividades periféricas, este projeto tomará a clínica enquanto ethosque atravessa inúmeros contextos, campos de atuação com uma diversidade de práticas e não como topos, em seu sentido corriqueiro atribuído ao setting, ao consultório, ao divã. Inspirado em uma frase de Frei Betto8 , este trabalho tem como título Uma clínica que pensa com os pés onde pisa, sinalizando a provocação para que as cartografias clínicas sejam realizadas a partir de onde, quando e com quem a clínica se encontra, como modo de captar a singularidade dos encontros em uma prática que, de fato, seja coerente com as pessoas que a clínica encontra. Problematizar a maneira como a clínica escuta as subjetividades periféricas em consonância com a proposição da criação de outras perspectivas teórico-metodológicas de cuidado anuncia a relevância desta pesquisa, tendo em vista o cenário hegemônico marcado por práticas individualizadas e individualizantes, elitistas, inspiradas em referenciais que tentam universalizar a vivência de subjetividades periféricas às subjetividades de outros cenários geográficos, históricos, étnico-raciais, socioculturais. Destarte, pretendo des-pensar a clínica que tenta enxergar as subjetividades locais a partir de lentes eurocêntricas tidas como universais5, 6 , considerando que “uma clínica que pensa com” afirma uma clínica que modifica seu sentido etimológico de um inclinar-se diante do leito para proporcionar uma disposição ao encontro com as outreridades9 enquanto relação entre vidas em suas relações de afetação e não na relação sujeito x objeto de investigação. Pensar com pressupõe a desposição de poder que admite o outro como corpo-passivo e considera as outreridades como produção de saberes em suas narrativas, seus modos de vida compreendendo uma clínica que se coloque em condição de construção/desconstrução de suas teorias e do seu ethoscom aquelas(es) que encontra. A partir da inspiração das epistemologias das encruzilhadas de Exu2 , os objetivos deste trabalho foram descritos como caminhos, em uma tentativa de manter uma coerência com uma proposta que situa a potência de uma clínica que produz suas cartografias analíticas a partir das suas andanças pelos caminhos que transita e os encontros que produz, experimenta. Estes caminhos podem ser pensados separadamente, mas também de modo entrecruzado, posto que são indissociáveis e co- 76 imbricados. Estes caminhos não foram escritos a partir da diferenciação entre geral e específicos e foram enumerados sem qualquer relação hierárquica, apenas com intuito de sistematização. Os caminhos objetivosque serão trilhados para a concretização da presente pesquisa são 4, a saber: Caminho Um: Cartografar a clínica em seu encontro com subjetividades periféricas,Caminho Dois: Mapear processos interseccionais das subjetividades periféricas em seu encontro com a clínica, Caminho Três: Experimentar a invenção de uma clínica da diferença descolonizada e descolonizante que pense com os pés onde pisa, Caminho Quatro: Entrecruzar a clínica com epistemologias das encruzilhadas com aportes de autoras(es) brasileiras, africanas, afrodiaspóricas, indígenas e latino-americanas. A partir do que estou experimentando chamar de leiturAtiva (em contraposição a passividade das repetições que a academia por vezes impõe), os referenciais teóricos serão operados a partir de uma interpreTorção, ousando produzir desfigurações, dobras, cortes, fissuras nas narrativas de autoras(es) com o intuito de afinar os referenciais às subjetividades periféricas. O que acontece de praxe na graduação em Psicologia é que psicólogas(os) em formação escolham as epistemologias (em sua maioria europeias ou norte-americanas) antes do encontro com as vidas. Em um caminho inverso a este cenário, a presente pesquisa tomará os encontros como disparadores basilares para a escolha, contextualização, adaptação, torção dos referenciais teóricometodológicos, tendo como aposta o protagonismo de epistemologias da encruzilhada com aportes de referências brasileiras, africanas, afrodiaspóricas, indígenas e latinoamericanas na busca de manter uma coerência teórica as subjetividades cartografadas. Como método de pesquisa será utilizada uma Cartografia criada por Deleuze e Guattari10 e atualizada por autoras(es) como Rolnik11, Passos, Kastrup e Da Escócia12. Apesar de gargalhar, dançar, brincar, pregar peças, Exu (o primeiro peripatético existente) não deixa de ser rigoroso em seus atos e criações, afinal torcendo a língua de Foucault13: Não se deve imaginar que é preciso ser triste para ser pensador, mesmo que a coisa que se pesquisa seja abominável! Assim como Exu, apesar de apostar nesta reversão do sentido da cartografia para afirmar o caminhar como processo de constituição de uma pesquisa que permite desvios, modificações, interferências, diferenCriações não penso neste processo de aposta de pensar com os pés onde pisa, a partir do caminho como redução do rigor de pensamento. Pelo contrário, pensar o primado dos encontros, do entrecruzamento entre vidas periféricas e a clínica contempla um coletivo de forças para empreender uma análise das conexões, dos cruzos, das variações, bifurcações e da produção de diferença2 como um modo de construir e costurar novos sentidos para o rigor metodológico e de 77 possibilidades de produção de um exercício de inseparabilidade entre vida-epistemologia, conhecer-fazer, pesquisar-intervir, crítica-clínica. Será realizada uma cartografia das memórias dos encontros com subjetividades periféricas que experimentei enquanto analista no cuidado a pessoas em situação de rua no Programa Corra pro Abraço em Feira de Santana/Bahia. A partir da análise de diários de bordo e da análise documental de instrumentos denominados planos de acompanhamento do cuidado serão analisados o entrecruzamento de processos analíticos com os processos de subjetivação e enunciação. Apesar de partir de memórias de experiências clínicas, as análises não se encerrarão em uma lógica biográfica, mas sim visarão alcançar processos ampliados envolvendo o encontro entre clínica e subjetividades periféricas. Entre os participantes da pesquisa selecionados, pode-se citar uma mulher negra em situação de rua, uma travesti negra, um homem negro adepto ao candomblé e um homem indígena vivendo em situação de rua. Como análise dos dados, propomos o que estamos chamando de Encruzanálise que, a partir das epistemologias das encruzilhadas, será percorrida em duas vias: enquanto entrada e saída. Enquanto entrada propõe analisar quais linhas-caminhos (micro e macro) se entrecruzam nas narrativas na constituição das subjetividades, em uma compreensão que problematiza as análises unitárias10 e contempla campos de atravessamento, entrecruzamento, desvios, contradições de processos plurais que transversalizam redes de saber-fazer indissociáveis. Enquanto saída propõe analisar-propor a criaçãointensificação-multiplicação de caminhos de saída, de novos possíveis tanto para as subjetividades periféricas, quanto para a clínica. Como resultados esperados, apostamos na construção de uma pesquisa articule uma análise crítica que implique processos de revisão e criação, a partir de elementos epistemológicos, éticos, ontológicos, estéticos, políticos que permeiam a clínica. Ademais, propor, de maneira crítico-criativa, a irrupção de uma fixidez teórico-metodológicapara construir cartografias analíticas a partir dos encontros que a clínica experimenta, possibilitando análises e práticas coerentes com os contextos e as vidas que a clínica se propõe cuidar.


MEMBROS DA BANCA:
Externo à Instituição - ANA KARENINA DE MELO AARAES AMORIM - UFRN
Presidente - 2231565 - ANTONIO VLADIMIR FELIX DA SILVA
Interno - 1750399 - CARLA FERNANDA DE LIMA
Notícia cadastrada em: 07/12/2021 19:45
SIGAA | Superintendência de Tecnologia da Informação - STI/UFPI - (86) 3215-1124 | © UFRN | sigjb06.ufpi.br.instancia1 28/03/2024 09:52