Atividades farmacológias de oximas modificadas e alcalóides obtidos das espécies Guatteria friesiana e G. blepharophylla – Perspectivas de uma formulação farmacêutica sólida, na terapia da doença de Alzheimer.
Guatteriopsiscina; Oximas, Doença de Alzheimer, Acetilcolinesterase
O número de pessoas vivendo com a doença de Alzheimer (DA) atualmente foi estimado em aproximadamente 44 milhões, podendo quase dobrar em 2030 e mais que triplicar em 2050. Na DA ocorre a deficiência de alguns neurotransmissores, sendo o principal a acetilcolina (ACh), que está envolvida diretamente nos processos motores, cognitivos e de memória. A galantamina (Reminyl®), um alcaloide isolado de plantas da família Amarillidaceae, é considerado um dos medicamentos mais efetivos no tratamento da DA por apresentar poucas limitações e menos efeitos colaterais. Compostos sintéticos como por exemplo as oximas também vem sendo investigados quanto à capacidade de inibição da enzima acetilcolinesterase (AChE) e perspectivas de uso como medicamentos no tratamento da DA. Neste contexto, é crescente a busca de inibidores naturais da enzima AChE a partir de plantas medicinais e protótipos sintéticos. Os objetivos deste trabalho foram: selecionar, através de um screening, compostos com potente ação anticolinesterásica e baixa citotoxicidade a partir de oximas modificadas e alcaloides isolados das espécies Guatteria friesiana e G. blepharophylla. Através deste screening foi selecionado o composto com maior inibição da AChE, a guatteriopsiscina. Foi elaborado com este composto um complexo de inclusão (CI) utilizando como excipiente farmacêutico a β–ciclodextrina (CIG-βCD). No primeiro capítulo, foi elaborada uma revisão sobre a doença de Alzheimer e inibidores da enzima AChE. O segundo capítulo trata de perspectivas no tratamento da DA. O terceiro capítulo trata de uma revisão do uso de ciclodextrinas na formulação farmacêutica de fármacos. O screening para potencial de inibição da AChE com as oximas modificadas (I a VI) e os alcalóides (VII a XII ) foi realizado de acordo com a metodologia de Ellman (1961) modificada por Rhee (2001). As linhagens tumorais, a saber: HL60 (leucemia pro-mielocítica), NCI-H292 (câncer de pulmão) e MCF-7 (câncer de mama) foram utilizadas nos testes de citotoxicidade in vitro. A oxima I apresentou-se não citotóxica enquanto que as oximas II a V demonstraram significativa atividade contra todas as linhagens tumorais testadas, com resultado superior ao medicamento doxorrubicina. A oxima VI demostrou alta citotoxidade apenas na linhagem HL60 (leucêmia pró-milelocítica). O teste quantitativo de inibição da AChE permitiu selecionar os compostos com maior potencial inibitório a saber: oxima (I) (CI50 =248 μg/mL) e o alcalóide (IX), a guatteriopsiscina, sendo que este apresentou resultado bastante significativo quando comparado com a rivastigmina (CI50= 1,87 µg/mL), um dos medicamentos mais utilizados no tratamento da DA. O CIG-βCD foi elaborado a partir da técnica de malaxagem e caracterizado pelas seguintes técnicas espectroscópicas: calorimetria exploratória diferencial, espectroscopia na região do infravermelho, difratometria de raios X , Ressonância Magnética Nuclear de 1H e microscopia eletrônica de varredura. No espectro infravermelho as bandas características do alcaloide, próximas a 3000 cm-1 e entre 1250 cm-1 e 1750 cm-1, tiveram acentuada redução de intensidade no espectro do CI, sugerindo que estas ligações estejam envolvidas na formação do complexo. O difratograma de raios-X evidenciou uma diminuição da intensidade dos picos do CI quando comparados ao padrão de difração da guatteriopsiscina isolada. A microscopia eletrônica de varredura mostrou a morfologia do CI como partículas de cristal compactas e homogêneas em forma de placas e com tamanhos e formas bastante diferentes do alcaloide e da ciclodextrina, confirmando a formação do complexo. Dessa forma, houve formação do CIG-βCD através da técnica de malaxagem. Portanto, os resultados obtidos são promissores para elaboração de uma futura formulação farmacêutica com o complexo.