Os pescadores artesanais detêm um conhecimento tradicional adquirido por meio da interação direta com o ambiente, tornando-se uma fonte essencial de informações para a gestão sustentável dos recursos naturais. Com esse estudo analisou-se o desenvolvimento de pesquisas sobre o conhecimento dos pescadores, destacando sua relevância para a conservação ambiental; caracterizou-se a atividade pesqueira no município de Beneditinos, Piauí; elencou-se as plantas úteis diretamente envolvidas na atividade pesqueira e analisou-se a percepção ambiental dos pescadores sobre as principais mudanças ao longo dos anos a fim de identificar os desafios e ameaças à atividade pesqueira. A produção científica com enfoque no conhecimento de pescadores, no período de 2013 a 2023, foi analisada a partir de 222 artigos selecionados em um levantamento realizado nas bases de dados Web of Science, Scopus e Science Direct. Os resultados mostram um crescimento das pesquisas desde 2018, com o Brasil como principal polo. A Etnoecologia é a área mais abordada, seguida pela Etnozoologia e Gestão Pesqueira. Os estudos ressaltam a importância do conhecimento dos pescadores na compreensão das mudanças ambientais, na conservação da biodiversidade e no desenvolvimento de práticas sustentáveis. No entanto, é fundamental adotar um modelo de gestão participativa que integre o conhecimento dos pescadores ao saber científico e à formulação de políticas afim de fortalecer a gestão dos recursos naturais e promover práticas benéficas às comunidades e ao meio ambiente. Entrevistou-se 36 pescadores artesanais com o auxílio de formulários semiestruturados, contemplando aspectos socioeconômicos, identificação de espécies de peixes e plantas utilizadas na atividade pesqueira, além das dificuldades enfrentadas e práticas conservacionistas adotadas. Os
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
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dados foram analisados qualitativamente e quantitativamente. O conhecimento sobre espécies de plantas e ictiofauna foi avaliado usando o Índice de Valor de Consenso de Uso (VCU) e o Valor de Importância (IVs) para as espécies mais citadas. A relação entre variáveis socioeconômicas e conhecimento foi testada por meio de testes de normalidade (Shapiro-Wilk) e correlação (Spearman). A pesca é realizada predominantemente por homens, adultos, de baixa escolaridade, as principais artes de pesca são o engancho, tarrafa e jiqui (91,66%). O levantamento da ictiofauna registrou 44 espécies, sendo Psectrogaster rhomboides Eigenmann & Eigenmann, 1889 (branquinha-oin), Curimata macrops Eigenmann & Eigenmann, 1889(branquinha-oião) e Prochilodus lacustris Steindachner,1907 (curimatá) as mais importantes evidenciando o valor econômico e cultural dessas espécies. Já o conhecimento etnobotânico revelou 36 espécies vegetais úteis para alimentação dos peixes, construção de embarcações, confecção de apetrechos e iscas. A idade e experiência influenciam positivamente o conhecimento tradicional, com pescadores mais velhos e experientes citando mais espécies de peixes. Foram identificadas práticas insustentáveis, como a pesca com o cloro (Cl), com redes de pesca com malha pequena (3cm) e o desmatamento das florestas ripárias que tem intensificado o assoreamento dos rios, reduzindo os locais de pesca. Apenas 44,45% dos pescadores adotam práticas conservacionistas. Diante das ameaças identificadas é necessário adotar estratégias eficazes de conservação e manejo dos recursos pesqueiros locais, implementar políticas públicas e ações de fiscalização, e promover projetos de educação ambiental por intermédio das colônias de pescadores.