A apicultura no semiárido nordestino, especialmente nos estados do Piauí, Ceará e Bahia, representa uma importante alternativa econômica em regiões de clima adverso, onde a escassez hídrica limita as opções produtivas rurais. Conforme último censo agropecuário, a maioria dos estabelecimentos apícolas do Nordeste situa-se em territórios semiáridos e apesar do crescimento da atividade, eventos climáticos extremos como a seca de 2012 a 2015 impactam drasticamente a produção de mel, evidenciando a necessidade de estratégias adaptativas por meio de práticas de manejo específicas, como o sombreamento, o fornecimento de água e o uso de redutores da área de abertura para a entrada e saída das abelhas nas colmeias (alvado), esta última consiste em uma tecnologia de baixo custo empregada para controlar a entrada de ar, manter a temperatura interna e proteger as colmeias contra invasores. O presente estudo investiga os efeitos bioclimáticos da redução do alvado como estratégia de manejo para a manutenção das colônias durante o período de estiagem no semiárido piauiense. Embora amplamente adotada por apicultores locais, essa prática é muitas vezes baseada em conhecimentos empíricos não sistematizados, o que pode resultar em diferentes níveis de eficácia conforme a percepção e a compreensão dos produtores sobre seus efeitos bioclimáticos. Este resumo trata da etapa da pesquisa relacionada à análise de entrevistas realizadas com 24 apicultores membros da associação de apicultores de Massapê do Piauí quanto ao uso do redutor de alvado como tecnologia social adaptada ao semiárido, partindo da hipótese de que diferentes formas de utilização deste dispositivo influenciam de maneiras distintas na defesa e no conforto térmico das colônias de Apis mellifera L. Os resultados revelaram que 62,5% dos entrevistados utilizam essa técnica, atribuindo-lhe múltiplas funções, como barreira contra pragas (formigas, traças), proteção contravento e poeira e conforto térmico. Ainda que parte dos apicultores não tenha observado eficácia plena, especialmente quanto à manutenção das colônias, a maioria reconhece seu valor, especialmente no que se refere à prevenção ao ataque de invasores oportunistas que aparecem durante o período de estiagem. As percepções sobre o semiárido revelaram um entendimento empírico do ambiente, com destaque para a aridez, irregularidade das chuvas e importância das espécies nativas na flora apícola, e a adoção de práticas como o fornecimento de água, mencionada pela maioria, mostra a capacidade adaptativa dos apicultores diante da escassez. O conhecimento técnico sobre o redutor circula principalmente por meio de cursos, oficinas e trocas entre colegas, sendo fortalecido pelas redes associativas locais, o que evidencia a construção coletiva de saberes e a importância das associações como espaços de inovação. Apesar da contribuição expressiva dessas práticas para a resiliência da apicultura no semiárido, a ausência de políticas públicas estruturadas limita sua consolidação, tornando urgente o reconhecimento dessas estratégias como tecnologias sociais válidas, sustentadas por saberes locais e passíveis de serem integradas em programas de extensão e pesquisa participativa. A partir desse contexto, o estudo destaca a relevância de políticas que articulem o conhecimento científico e tradicional, promovendo a sustentabilidade da apicultura frente às mudanças climáticas e fortalecendo o protagonismo dos apicultores como sujeitos ativos na construção de alternativas produtivas no semiárido brasileiro.