Nesta pesquisa partiu-se da problemática acerca dos elementos formativos que motivaram alguns profissionais da psicologia, afrodescendentes, que apesar das suas realidades curriculares nas quais em sua maioria, o debate da questão racial permaneceu silenciado (em alguns casos, totalmente ausente) ainda assim, desenvolveram o interesse por atuar perante essa realidade nos seus respectivos campos de atuação profissional. Diante disso, este estudo teve como objetivo geral compreender nas experiências autorrelatadas, fatores que levaram alguns psicólogos a atuarem profissionalmente diante das questões raciais numa sociedade declaradamente racista como a brasileira no contexto nordestino a partir das perspectivas destes mesmos. Seguido dos objetivos específicos de 1. identificar, caracterizando- discutindo-problematizando, quais concepções que os psicólogos colaboradores deste estudo possuem acerca das questões raciais; 2. caracterizar quais fatores (fenômenos) no âmbito das experiências despertaram nesses colaboradores o interesse de abordar a temática racial na sua atuação profissional, 3. relacionar as experiências (pessoais, familiares, universitárias e profissionais) de contato e exposição com discussões acerca da temática racial com o desenvolvimento do interesse em atuar profissionalmente contra o racismo brasileiro e 4. Descrever a partir dos relatos dos psicólogos e psicólogas colaboradores, os desafios enfrentados no que tange as suas atuações profissionais diante do problema racial brasileiro. Para isso, realizou-se um estudo qualitativo onde as etapas de acesso, construção e organização dos dados fizeram-se de maneira totalmente virtual, onde se utilizou a entrevista narrativa com profissionais afrodescendentes residentes nos estados do Maranhão, Piauí e Bahia. A escolha desses estados justifica-se por fazerem parte da região Nordeste que segundo dados do IBGE (2022), a população afrodescendente ultrapassa os 75%. Os resultados sugerem que o contato com grupos de estudo que debatem a temática racial, movimentos sociais e com ideias de intelectuais afrodescendentes possibilitaram que os colaboradores desenvolvessem uma concepção ampliada das questões raciais o que corroborou para os motivarem em transformar as suas experiências formativas em possibilidades de intervenção. A partir da análise dos dados, defende-se a tese de que, a existência de espaços ativos de discussão sobre as questões raciais, que levem em conta as experiências e as realidades sociais dos indivíduos, quando somadas a presença de figuras intelectuais de identificação representativa, promoveu nestes participantes a possibilidade de se engajarem em um processo educativo, cujo desdobramento está no desenvolvimento de uma consciência de pertença grupal e que, juntamente com a possibilidade de ação, agiram como fator motivador para a materialização de ações efetivas a favor do seu grupo de pertencimento racial.