Esta pesquisa tem como centralidade as reverberações da Lei nº 13.415/17, que instituiu o Novo Ensino Médio (NEM), nas escolhas profissionais de estudantes de uma escola pública de Teresina-PI. A reforma, embora promovida pela mídia como uma inovação que traria protagonismo juvenil e liberdade de escolha, é aqui entendida como uma contrarreforma, um movimento criticado por aprofundar as desigualdades educacionais e reforçar a histórica dualidade do ensino brasileiro: um modelo voltado para a elite e outro para os jovens das classes populares. Ancorada no materialismo histórico-dialético e dialogando com autores como Marx, Lukács e Tonet, a pesquisa buscou analisar as reverberações do NEM nas escolhas profissionais de jovens estudantes. Para tanto, buscou-se analisar a estrutura curricular do NEM e as condições materiais de ensino que a escola pública oferece ao jovem no processo de formação para o trabalho; e, investigar como a flexibilização curricular do novo ensino médio reforça a formação dual e compreender as estratégias de mediação da escola em relação às escolhas profissionais dos estudantes. A metodologia incluiu aprofundamento bibliográfico-documental e pesquisa de campo, utilizando como técnicas de construção dos dados o questionário socioeconômico e grupo focal com os estudantes. Os resultados revelaram uma contradição entre o discurso oficial proferido pelo Ministério da Educação (MEC) acerca da reforma e a realidade vivenciada na escola. A promessa de protagonismo e liberdade de escolha é desmentida pela experiência concreta dos jovens, que se veem como um experimento social em meio a uma implementação caótica e precária. Eles relataram sobre a falta de estrutura, a desorganização, o esvaziamento de disciplinas essenciais e a inserção de eletivas de baixo valor formativo. A tão anunciada liberdade de escolha se mostrou uma ilusão, diante das poucas opções de itinerários e da impossibilidade de aplicá-los. Como consequência, os estudantes perceberam que o novo formato os distancia de uma formação qualificada e os coloca em desvantagem na disputa por uma vaga nas universidades públicas, direcionando-os para o mercado de trabalho de forma aligeirada e precária. Suas escolhas profissionais, por sua vez, são atravessadas pela necessidade de estabilidade financeira, um projeto de vida que entra em conflito com a formação fragilizada que recebem. A pesquisa revelou, portanto, que o NEM pode ser entendido como uma contrarreforma que intensifica a precarização, aprofunda a dualidade educacional e promove a alienação dos estudantes, que não se reconhecem como protagonistas do processo formativo. A crítica que os jovens elaboram sobre sua própria educação, no entanto, mostra que sua experiência, embora frustrante, potencializou sua consciência sobre as contradições de um projeto de classe que visa adequar a juventude à lógica do capital. Concluímos que o NEM frustra as perspectivas de futuro dos estudantes, mas, contraditoriamente, fortalece sua percepção crítica sobre os limites impostos por sua condição social, e reforça a importância de lutar por uma educação que tenha como horizonte a emancipação humana.