Esta dissertação representa um esforço inicial, ainda que não único, de demonstrar como a flexão dos conceitos de gênero e sexualidade pode ampliar a compreensão sobre as identidades humanas. Parte- se da hipótese de que, por meio da análise da arte rupestre, é possível explorar nos sítios arqueológicos do mundo, e especialmente do Brasil, vestígios de conceitos e contextos apagados pelos processos de colonização. O objetivo central é evidenciar como gênero e sexualidade são categorias passíveis de reconhecimento e reinterpretação na pré-história brasileira, revisitando os marcos teóricos nos quais essas experiências foram sistematicamente silenciadas por uma lógica colonial e normativa. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, fundamentada na análise de artigos e livros a partir de uma iconográfica e hermenêutica de registros rupestres encontrados em sítios arqueológicos brasileiros, com ênfase na região do Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí. Apoiada em referenciais da arqueologia de queer, dos estudos decoloniais e das epistemologias feministas, a dissertação busca desconstruir leituras hegemônicas e binárias da pré-história, propondo novas formas de interpretar os vestígios materiais e simbólicos do passado. Entre os principais resultados, destaca-se a formulação de conceitos como o antropomorfismo queer, que propõe uma leitura não binária das figuras humanas representadas, além das categorias homofálicoafetivo e homovulvoafetivo, que reconhecem, a partir de evidências visuais e simbólicas, a existência de afetividades e relações homoeróticas na ancestralidade. Conclui-se que refletir sobre gênero e sexualidade por meio da arte rupestre não apenas desestabiliza as narrativas hegemônicas sobre o passado humano, mas também propõe um novo vocabulário teórico-metodológico para a arqueologia, baseado em perspectivas transgressoras, inclusivas e decoloniais.