No Brasil, a situação epidemiológica dos ortopoxvírus tem sido objeto de estudos desde o início do século. Estudos recentes mostram a ocorrência de surtos do Orthopoxvirus vaccinia (VACV), um membro do gênero Orthopoxvirus (OPV), em diversas regiões do país. Casos clínicos com lesões foram confirmados em áreas rurais, enquanto nas áreas urbanas, ainda não existem registros de casos com lesões, apenas casos de indivíduos com reatividade sorológica. No entanto, a ampla circulação de OPV traz preocupações em relação à ocorrência de surtos zoonóticos, especialmente para a população que não foi vacinada contra varíola. Desta maneira, um estudo transversal tem sido conduzido para compreender melhor a positividade dos OPV e avaliar fatores de exposição que podem estar relacionados com a presença de OPV em uma população urbana da cidade de Parnaíba, Brasil. Um total de 104 indivíduos foram amostrados, produzindo uma soropositividade geral de 16,9% (IC95% = 13,4–21,1). A positividade de anticorpos neutralizantes (AN) entre os indivíduos potencialmente vacinados contra a varíola (≥44 anos) foi de 55,6% (IC 95% = 38.1–72,1), e entre os não vacinados (<44) foi de 14,7% (IC 95% = 7,2–25,4). Dos fatores de exposição analisados, apenas o contato com aves (p = 0.033; OR = 0.290; IC95% = 0.0883 – 0.952), pequenos ruminantes ( p = 0.025; OR = 13.1; IC95% = 0.609 – 281) e cavalos (p = 0.001; OR =25.3; IC95% =1.32 – 486), demonstraram ser significativos na presença de AN. Porém na análise de regressão logística estes fatores não mostraram uma associação significativa com a positividade de AN. Com a regressão logística multivariada, também foi possível observar que indivíduos com mais de 44 anos tiveram 7 vezes mais chances de apresentar AN do que indivíduos mais jovens (OR = 7,2; IC95% = 2,8 - 18,5; p = <.001). Também observamos que 8 indivíduos (13,3%), potencialmente não vacinados (<44) que relataram ter contato com animais domésticos, testaram positivo. Os resultados mostram que a idade é um fator determinante na positividade de AN contra OPV, além disso, sugerem uma circulação silenciosa de OPV em áreas urbanas.