Propomos uma reflexão sobre o reconhecimento e o que este promove a si, ao outro e à dimensão ético-política, visto que entendemos que essa abertura ao outro e às suas possibilidades de compreensão, nos ajudam a ter acesso e a construir o mundo no qual vivemos e alargar os modos de ser. Refletimos sobre o reconhecimento enquanto uma problemática intersubjetiva que mobiliza processos e estruturas mediadoras no campo político (das instituições e organizações sociais) e opera num horizonte que vise a convivência pacífica, numa lógica dialética do consensual-conflitual. Partimos da premissa de que o contexto contemporâneo que experimentamos está fortemente marcado não por um problema de reconhecimento, mas por sua total negação, onde cada um de nós tomado como corpo político forma um mosaico complexo em que a incompreensão se torna evidente. Por isso, encaramos o desafio de ir com e além do trabalho fenomenológico-hermenêutico de Paul Ricoeur (1991;2006a), numa perspectiva pluralista, percebendo que a responsabilidade em torno de um projeto de reconhecimento se dá não apenas em relações horizontais de pessoa a pessoa (eu-tu), mas com raízes profundas no mundo compartilhado. Propomos a figura do compromisso como um reforço sintomático da responsabilidade política e da ampliação das dimensões imaginativas e afetivas, à prova da realidade, como possibilidade de reordenamento da práxis. Encontrar em sua filosofia uma dimensão política do reconhecimento não deve ser encarado como uma redução do fenômeno a seu estrito significado político, mas ampliar e enriquecer o sentido diante de um poder de agir. É um sinal da tarefa e não de resultados diante de pessoas e relações e de um mundo, autônomo, vulnerável e responsável.