O estudo propõe uma análise do romance Estive lá fora (2012), de Ronaldo Correia de
Brito, sob a perspectiva da hermenêutica de Paul Ricoeur. A pesquisa investiga como as
noções ricoeurianas Identidade e Narrativa são manifestadas na obra literária,
explorando os conflitos do protagonista Cirilo, que transita entre valores políticos e
religiosos durante a ditadura civil militar brasileira. O objetivo geral da pesquisa é
desenvolver uma análise filosófica do romance de Ronaldo Correia de Brito, Estive lá
fora (2012), a partir das noções ricoeurianos de Identidade e Narrativa. A abordagem
hermenêutica permite interpretar não apenas o texto, mas também o processo pelo qual
a identidade se constitui na relação entre memória, história e ficção. Ao inserir Estive lá
fora (2012) no contexto da literatura memorialista e histórica, o estudo reforça a
importância da literatura contemporânea na preservação da memória cultural e na
revisão de eventos históricos. Na obra O si-mesmo como outro (2014). Ricoeur propõe
três intenções reflexivas centrais: a mediação reflexiva sobre o sujeito por meio da
primeira pessoa do singular; a dissociação dos significados de identidade; e a dialética
entre mesmidade (idem) e ipseidade (ipse). Ele explora o conceito de identidade
pessoal, relacionando-o à dimensão temporal, já trabalhada em Tempo e Narrativa
(2010). A identidade é vista como um processo contínuo de construção, baseado na
memória e nas interações sociais. Já em Tempo e Narrativa (2010), o filósofo propõe a
tríplice mimese como estrutura fundamental da narrativa: mimese I (pré-configuração
do mundo da ação), mimese II (configuração da intriga) e mimese III (refiguração pela
recepção do leitor). A narrativa é entendida como um meio de organizar a experiência
humana no tempo, permitindo ao sujeito compreender sua história e identidade. Ricoeur
explora a relação entre narrativa e temporalidade, destacando a influência da tradição
aristotélica e a importância da ficção na construção da identidade pessoal. A
investigação confirmou a hipótese central de que a identidade do protagonista é
moldada por múltiplas influências, destacando-se a memória familiar, os valores
cristãos adquiridos na infância e as pressões do contexto político da ditadura militar
brasileira.