A sociedade brasileira é, historicamente, estruturada em uma lógica de produção de subjetividade colonial-capitalística e atravessada por elementos que compõem este sistema moderno-colonial de gênero: colonialidade do poder, racismo, patriarcado, cisheteronormatividade, epistemicídio, etnocídio, abjeção do corpo não binário, transfobia e transfeminicídio. Nesse contexto, emergem subjetividades travestigêneres e boycetas que se reinventam um corpo e expressam, por meio da arte, processos de subjetivação singulares que rompem com o colonialismo capitalístico, este que insiste em negar seus modos de existência para continuar subtraindo potência de vida. Diante desse paradoxo, esta pesquisa cartográfica, ancorada na caixa de ferramentas-conceitos da esquizoanálise e em concepções transfeministas, parte da seguinte questão: O que pode a reinvenção do corpo e a arte na produção de subjetividades travestigêneres e boycetas? A problematização dessa e de outras questões tem como objetivo: Cartografar processos de subjetivação e arte de travestigêneres e boycetas, visando o reconhecimento de micro insurgências que têm a arte e o corpo como matérias de expressão dos processos de subjetivação. Trata-se de uma cartografia híbrida como método e modo de produzir dados e informações ao acompanhar artistas travestigêneres e boycetas a partir da rede social Instagram e ao experimentar suas composições cartográficas em encontros, rodas de conversa, mapeamento de performances do corpo em cena na cidade de Fortaleza – Ceará, e observação participante de exposições artísticas na amostra do 76º Salão de Abril. A análise dos resultados e sua discussão, em uma perspectiva interseccional, podem mostrar a coexistência de processos de subjetivação segmentados à lógica colonial-capitalística e processos de subjetivação singulares que compõem uma clínica da arte do cuidado de si e do agenciamento coletivo do desejo em torno da promoção da saúde mental de pessoas travestigêneres e boycetas, que está relacionada com as intervenções artísticas e não, necessariamente, com os equipamentos da rede de atenção psicossocial.