Introdução: O envelhecimento populacional constitui um fenômeno
contemporâneo global; contudo, manifesta-se de forma desigual entre os países.
Nações desenvolvidas, como a Inglaterra, vivenciam esse processo há mais
tempo e de maneira gradual, enquanto países em desenvolvimento, como o
Brasil, enfrentam um envelhecimento demográfico acelerado e intenso,
frequentemente sem os recursos adequados para lidar com suas implicações.
Compreende-se o envelhecimento como um fenômeno multifacetado e
contextualizado, exigindo a análise de diferentes dimensões a ele relacionadas,
como a qualidade de vida (QV) e a saúde mental (SM). Sob uma perspectiva
interseccional, observa-se que indivíduos LGBTQIA+ vivenciam o
envelhecimento atravessados por estressores específicos e situações de violência
simbólica e material, que os diferenciam significativamente da experiência de
pessoas heterossexuais. No que se refere à QV, é amplamente reconhecido que
pessoas LGBTQIA+ enfrentam barreiras mais expressivas no acesso a direitos
fundamentais, tais como saúde, habitação, trabalho e lazer. Adicionalmente,
compreende-se a saúde mental como um fenômeno de natureza biopsicossocial.
Especificamente no caso de mulheres lésbicas, estudos indicam que estas são
impactadas por fatores estressores que contribuem para a internalização do
machismo e da lesbofobia, o desenvolvimento de baixa autoestima, sofrimento
psíquico e redução do bem-estar subjetivo. No contexto brasileiro, essas questões
se apresentam de maneira ainda mais complexa, intensificadas pelas
desigualdades socioeconômicas estruturais características de países em
desenvolvimento. Apesar da relevância do tema, verifica-se que a maioria dos
estudos sobre envelhecimento, qualidade de vida e saúde mental na população
LGBTQIA+ foi conduzida em países do Norte Global, frequentemente
negligenciando as especificidades socioculturais dos contextos do Sul Global.
Diante disso, a investigação dessas temáticas em dois cenários distintos — Brasil
e Inglaterra — permite uma análise comparativa mais abrangente e aprofundada,
contribuindo para a produção de conhecimento situado e sensível às
particularidades de cada realidade. Objetivo: Compreender e comparar as
Representações Sociais (RS) sobre envelhecimento, qualidade de vida e saúde
mental no Brasil e na Inglaterra, a partir das percepções de mulheres lésbicas e
heterossexuais. Método: Trata-se de um estudo qualitativo, de natureza
descritiva e exploratória, com delineamento transversal. A amostra é composta
por 400 participantes, sendo 200 mulheres lésbicas e 200 mulheres
heterossexuais, igualmente distribuídas entre brasileiras e inglesas. A coleta de
dados foi realizada por meio de instrumentos online, utilizando-se: (1)
questionário biossociodemográfico; (2) Teste de Associação Livre de Palavras
(TALP); e (3) entrevistas semiestruturadas. Os dados do questionário serão
analisados com o auxílio do software IBM SPSS, versão 25.0, mediante
estatísticas descritivas. As respostas do TALP e das entrevistas serão processadas
e analisadas com o software IRaMuTeQ, versão 0.7. Estudo 1: Teve como
objetivo comparar as Representações Sociais do envelhecimento entre mulheres
lésbicas e heterossexuais no Brasil e na Inglaterra. Os resultados evidenciam
tanto convergências quanto divergências nas representações construídas. Estudo
2: Buscará analisar as Representações Sociais sobre a qualidade de vida de
mulheres lésbicas e heterossexuais, tanto no Brasil quanto na Inglaterra. Estudo
3: Terá como finalidade identificar semelhanças e especificidades nas
Representações Sociais da saúde mental entre os mesmos grupos e contextos
nacionais. Estudo 4: Propõe-se desenvolver uma cartilha informativa bilíngue,
com material educativo sobre envelhecimento, qualidade de vida e saúde mental,
direcionada ao público participante da pesquisa, como forma de difusão
científica e promoção de saúde.