A caça de animais silvestres tem sido praticada pelos humanos há milhões de anos. A carne de caça serve como uma importante fonte de proteína animal e contribui na alimentação de milhões de pessoas de todo o mundo, particularmente de regiões de florestas tropicais. No semiárido brasileiro, o padrão de caça aos vertebrados cinegéticos para uso alimentar, com preferência por mamíferos (com maior biomassa) e aves (com maior riqueza de espécies) demonstra que a escolha das espécies é localmente influenciada pela disponibilidade, riqueza e porte das espécies alvos. É importante que haja entendimento sobre a realização da atividade de caça em diferentes contextos, visto variar o padrão de uso e consumo de região para região. Além disso, é necessário entender os problemas e as necessidades relacionadas à caça para definição de ações específicas para a conservação e o uso sustentável da fauna. Nesse sentido, a presente pesquisa teve como objetivos: (i) realizar uma revisão sistemática para identificar as motivações, técnicas e tecnologias utilizadas por caçadores em áreas urbanas e periurbanas no Brasil; (ii) investigar as motivações e técnicas de caça utilizadas entre caçadores do ambiente rural e urbano no município de São Gonçalo do Amarante, norte-cearense. No capítulo I foi realizado um levantamento dos dados no período de março a abril de 2024, por dois avaliadores de forma independente a partir de um protocolo para revisão sistemática da literatura. Foram consultadas as bases de dados eletrônicas, Google Acadêmico, Science Direct, Scopus, Web of Science e o Portal de Periódicos da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), com recorte temporal de 2014 a 2023. Os resultados indicam um número significativo de estudos realizados nas regiões Norte e Nordeste, sugerindo uma persistência cultural e uma necessidade contínua de integração dessas práticas às políticas de conservação e manejo sustentável da fauna. Conclui-se que a prática da caça e o consumo de carne silvestre no Brasil têm raízes culturais profundas, e apresentam desafios para a conservação da fauna e da flora, e para a sustentabilidade das espécies cinegéticas a partir de práticas de caça sustentáveis. Os resultados oferecem uma visão detalhada das práticas de caça e do consumo de carne de caça no Brasil, e estabelece base teórica para futuras pesquisas e para ações políticas que possam equilibrar as necessidades humanas com a conservação ambiental. No capítulo II, obtivemos informações parciais de 37 caçadores residentes em áreas rurais e urbanas do município de São Gonçalo do Amarante, Ceará por meio de formulários semiestruturados, complementadas por entrevistas livres e conversas informais. Nossos resultados preliminares revelam que entre os entrevistados, 54,1% vivem em zona urbana. A faixa etária predominante é de 26 a 35 anos, abrangendo 40,5% dos participantes. Quanto ao propósito da caça, a maioria (86,5%) caça e consome o que é capturado. No que diz respeito às técnicas de caça, a mais utilizada é a caça com cachorro, relatada por todos os entrevistados (100%), seguida pela caça com arapuca, gaiola e espingarda, todas com 10,8% de utilização. Entre os grupos taxonômicos citados as aves apresentaram maior riqueza de espécies, seguido por mamíferos e répteis. Nossos resultados sugerem a necessidade de uma avaliação possa subsidiar ações de gestão para a sustentabilidade desta prática na Caatinga, bem como permitir análises comparativas com outras regiões do Brasil.