A Doença de Chagas, causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi, é uma enfermidade tropical negligenciada com significativa relevância epidemiológica na América Latina. O Piauí, especialmente a região sudeste, apresenta alta prevalência da infecção, associada à presença de triatomíneos vetores. Os ciclos de transmissão envolvem ambientes silvestres, peridomésticos e domiciliares, com participação de diversos reservatórios mamíferos, como cães, gatos e gambás. A ação antrópica, por meio do desmatamento e urbanização, favorece a aproximação dos vetores às habitações humanas, ampliando o risco de transmissão. O presente estudo teve como objetivo identificar os hospedeiros que atuam como fontes alimentares dos triatomíneos coletados no município de Dom Inocêncio – Piauí. Usando primers específicos para vetebrados e DNA extraído de 64 amostras de conteúdo intestinal de cinco espécies de triatomíneos (Triatoma brasiliensis, Triatoma macromelasoma, Triatoma juazeirensis, Triatoma pseudomaculata e Panstrongylus lutzi) coletados no período de 24 a 27 de julho de 2022, amplificamos o fragmento do gene mitocondrial cytb. Após o sequenciamento, foram identificadas as fontes alimentares oriundas do repasto sanguíneo em 62 amostras com alcance de ≥ 95% de identidade com as sequências do GenBank (NCBI- BLAST). Os resultados mostraram que os cães e as galinhas foram as principais fontes de alimento para os triatomíneos, no entanto, devido à refratariedade das galinhas à infecção, os cães emergem como potenciais reservatórios do T. cruzi. Ao investigar as fontes alimentares, identificamos ecótopos artificiais que favorecem a formação de densas infestações de triatomíneos, que favorecem o aumento das taxas de infecção natural pelo parasito. Esses ecótopos podem ser utilizados para identificar áreas com risco contínuo de transmissão da doença de Chagas, além disso, o conhecimento dessas relações ecológicas e parasitológicas é fundamental para o monitoramento e controle da doença em áreas endêmicas