A presente pesquisa investiga os impactos da expansão da energia solar sobre o desenvolvimento socioeconômico e a cidadania em territórios socialmente vulneráveis, tendo como estudo de caso o município de São Gonçalo do Gurguéia (PI), onde está instalado, desde 2017, o Parque Solar de São Gonçalo, um dos maiores complexos fotovoltaicos da América Latina. Parte-se do problema de pesquisa o questionamento de que a presença de grandes empreendimentos de energia renovável é capaz de induzir transformações sociais positivas em contextos periféricos ou se reproduz padrões históricos de desigualdade. O objetivo geral é analisar em que medida esse tipo de empreendimento contribui para a redução da pobreza multidimensional e para o fortalecimento da cidadania local. A hipótese orientadora considera que, embora tais empreendimentos de energia solar tenha potencial transformador social, seus impactos efetivos dependem da articulação com políticas públicas estruturantes, ausentes ou insuficientes no território em questão. Do ponto de vista metodológico, a pesquisa adota abordagem quantitativa, com aplicação do Índice de Pobreza Multidimensional (IPM), conforme Alkire e Foster (2011), entre os anos de 2017 e 2024. Também será realizada análise comparativa com municípios de perfil socioeconômico semelhante, sem a presença de grandes empreendimentos, a fim de isolar os efeitos específicos do parque solar. A análise preliminar revela que, apesar da presença de uma infraestrutura energética de grande porte, o município apresenta baixos níveis de desenvolvimento humano e escassa presença do Estado na articulação com a empresa responsável pelo empreendimento para a implementação de políticas sociais que fomentem a cidadania local. Essa fragilidade institucional compromete os possíveis efeitos redistributivos do potencial econômico da usina fotovoltaica, limitando sua contribuição à cidadania plena compreendida, segundo Jessé Souza (2006; 2017), como o acesso real e universal a bens e capacidades sociais. A pesquisa propõe, portanto, uma reflexão crítica sobre o papel do Estado na mediação entre investimentos privados e a justiça social em territórios de vulnerabilidade social.