A presente dissertação analisa as práticas e os desafios inerentes à inclusão escolar intercultural dos indígenas Warao em Teresina (PI), Brasil. O estudo considera a crescente complexidade das relações entre educação, migração e diversidade étnico-cultural no contexto urbano, tendo como foco a migração forçada de indígenas da etnia Warao da Venezuela para o Brasil, intensificada pelos impactos da pandemia de Covid-19 e por fatores político-econômicos, cenário que gerou mudanças sociais, sanitárias, ambientais e econômicas, mobilizando indivíduos de diversas etnias e línguas para novos territórios. O objetivo central desta pesquisa é analisar o processo de inclusão escolar de indígenas Warao à rede de ensino pública de Teresina (PI), considerando os desafios existentes em face da perspectiva da inclusão e da interculturalidade. Para tanto, a pesquisa explora o contexto cultural e histórico dos Warao, avalia as políticas educacionais direcionadas a populações indígenas migrantes identificando os desafios e as estratégias para a promoção de uma educação intercultural. Essa pesquisa parte da compreensão da interculturalidade como um princípio estruturante para uma educação inclusiva e sensível à diversidade cultural, que expõe as limitações de uma estrutura educacional historicamente monocultural, apontando a necessidade da urgência na implementação de práticas pedagógicas que incorporem a diversidade linguística, epistemológica e cosmológica dos povos indígenas migrantes. Nesse sentido, analisa-se como a presença Warao influencia os modelos educacionais vigentes, demandando novas abordagens e práticas pedagógicas. A análise busca desnaturalizar perspectivas etnocêntricas (Evans-Pritchard, 2005) e discorrer sobre espaços de aprendizagem que fomentem o diálogo intercultural. A migração é compreendida não apenas como deslocamento físico, mas como circulação de significados (Appadurai, 1996), dentro de um nexo institucional transfronteiriço (Glick Schiller, 2010), que critica a "nacionalidade metodológica" e requer uma abordagem que reconheça as múltiplas fronteiras – simbólicas, geográficas e institucionais – que envolvem a circulação de significados, práticas culturais e identidades, atravessadas pelos sujeitos migrantes, bem como o acesso a direitos. A metodologia articula teoria e empiria, numa revisão bibliográfica, com análise de dados de políticas e práticas educacionais e experiências junto à comunidade Warao, amparando-se na observação participante, registro etnográfico e análise documental, visando contribuir para o campo de estudo que interconecta os aspectos antropológicos e educacionais da inclusão de povos indígenas migrantes. Foram identificados avanços importantes, como a criação de espaços escolares diferenciados, a valorização de práticas interculturais e a atuação conjunta entre órgãos públicos e educadores Warao; contudo, também foram constatadas fragilidades estruturais, como a ausência de uma política educacional indígena consolidada no estado, dificuldades na formação docente específica e entraves no processo de heteroidentificação racial. Para tanto foram analisadas as políticas educacionais e iniciativas locais, como os projetos Ciranda Latina, Alfabetização Sem Fronteiras e o EJA Intercultural Warao - Oka Ka Inaminanoko, que buscam promover uma educação intercultural e a inclusão dos Warao no sistema de educação em Teresina. A relevância desta pesquisa reside em sua contribuição para o campo antropológico e educacional, fomentando a integração da interculturalidade e o respeito à diversidade étnico-cultural no sistema educacional piauiense.