A presente pesquisa de mestrado tem como objetivo compreender as experiências de acesso, permanência e valorização epistemológica de estudantes transexuais e travestis no ensino superior, tomando como lócus a Universidade Federal do Piauí (UFPI), com enfoque nos desafios estruturais que atravessam suas trajetórias acadêmicas. A investigação se fundamenta em uma abordagem etnográfica e comparativa, inspirada na antropologia interpretativa de Clifford Geertz, aliada aos intelectuais teóricos da decolonialidade (Quijano, Mignolo, Lugones) e da interculturalidade crítica (Walsh, Dietz), compreendendo que a universidade moderna, estruturada por lógicas coloniais, cisheteronormativas e meritocráticas, produz mecanismos de inclusão excludente (Gentili) que impactam diretamente corpos dissidentes. Por meio de entrevistas com estudantes trans da graduação e pós-graduação, bem como análise institucional sobre a presença ou ausência de políticas afirmativas voltadas às questões de gênero e sexualidade, o estudo evidencia que, apesar dos avanços, a UFPI carece de iniciativas estruturadas como cotas específicas, formação de servidores para o acolhimento da diversidade, ouvidorias contra violências de gênero e condições dignas de moradia estudantil para discentes expulsos de casa. Os relatos coletados apontam que a permanência dos estudantes trans na universidade se dá majoritariamente por redes de apoio informais, marcadas por relações afetivas e estratégias de sobrevivência perante à negligência institucional. Assim, a pesquisa propõe uma educação intercultural e decolonial como horizonte possível para a reconstrução da universidade brasileira, movendo a diversidade de um lugar simbólico para uma prática concreta de redistribuição de poder e reconhecimento epistemológico.