O presente trabalho tem por objetivo geral investigar de que modo a oralidade em suas práticas, articula identidade, memória cultural e pertencimento no âmbito sociocultural na Umbanda. Para tanto, selecionamos como corpus os relatos coletados por meio de questionário on-line, respondido por praticantes de diferentes regiões do Brasil, o que possibilitou alcançar uma diversidade de experiências e percepções sobre a prática religiosa. Inicialmente, descrevemos as manifestações orais registradas como atos de linguagem inseridos em situações comunicativas específicas, cuja dinâmica é marcada pela ritualidade e pela performance. Em seguida, investigamos o contexto histórico, social e cultural no qual tais práticas se inscrevem, considerando as continuidades com a memória ancestral africana e as ressignificações contemporâneas próprias da Umbanda. A análise se apoiou nos parâmetros da Sociolinguística (Bortoni-Ricardo, 2014), que oferece uma perspectiva essencial sobre a relação entre língua e sociedade, ao compreender a linguagem como prática social moldada por normas culturais, contextos de uso e identidades compartilhadas. Esta pesquisa possui natureza qualitativa e exploratória, com cunho descritivo-interpretativo, caracterizando-se como conteudista quanto ao procedimento de coleta de dados. Os dados foram analisados à luz da Sociolinguística, alinhados aos princípios de Bortoni-Ricardo (2014), com foco na linguagem como prática social inserida em contextos culturais e identitários específicos. Foram mobilizados teóricos para oralidade (Zumthor, 1990; Ong, 1982), performance (Bauman & Briggs, 1990; Martins, 2003) e identidade (Bourdieu, 1996; Hall, 2003), de forma a fundamentar a interpretação das narrativas como expressões performáticas de pertencimento e diferenciação simbólica. Como resultados, constatamos que a oralidade ritualizada nos terreiros de Umbanda atua como repositório vivo de memória coletiva, transmitindo valores e saberes ancestrais e reforçando a identidade afro-brasileira. Identificamos que cânticos e rezas desempenham papel fundamental na coesão comunitária, ao mesmo tempo em que configuram práticas de resistência frente às hegemonias culturais letradas (Costa, 2010). Observamos ainda que a performance oral não se limita à dimensão verbal, mas se articula ao corpo, ao ritmo e à musicalidade, compondo um arcabouço multimodal de significação. Por fim, verificamos que a palavra falada, no contexto ritual, é percebida pelos fiéis como mediadora da experiência do sagrado, funcionando não apenas como veículo de comunicação, mas como invocação do divino. Concluímos que a análise da oralidade na Umbanda, pelo viés da Etnografia da Comunicação, contribui para compreender tanto a dimensão linguística quanto a função social e simbólica dessas práticas, reafirmando sua relevância como patrimônio imaterial e como forma de conhecimento afro-diaspórico.