Os quintais agroflorestais são sistemas eficientes de uso da terra, capazes de ofertar uma série de produtos e/ou serviços, e ainda promover a sustentabilidade para milhões de famílias rurais em todo o mundo. Diante disso, objetivou-se investigar as estórias conhecidas pelos moradores locais, bem como os saberes e práticas sobre o uso das espécies vegetais, presentes em quintais de comunidades rurais do município de Amarante, Piauí. Foram amostrados 33 quintais rurais (13 na comunidade Buritirana e 20 na comunidade Recanto), ocasião em que entrevistas semiestruturadas foram realizadas com os mantenedores que apresentaram idade igual ou superior a 18 anos. A pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Universidade Federal do Piauí (UFPI), segundo o nº do Parecer 1.837.197. Os materiais botânicos coletados, sob autorização dos mantenedores, seguiram o recomendado pela metodologia usual, em seguida, foram herborizados, processados e identificados com o auxílio de chaves de identificação taxonômica, por técnica de comparação ou ainda, por taxonomistas, sendo o voucher depositado no acervo do Herbário Graziela Barroso (TEPB) da UFPI. Os dados obtidos foram inseridos em planilhas eletrônicas, os quais subsidiaram informações para a construção de gráficos e tabelas, e analisados qualitativamente por meio de percentagem auxiliando nas discussões e conclusões desta pesquisa. Um número de 33 informantes participou voluntariamente do estudo, sendo 19 mulheres e 14 homens, com idade variando entre 21 a 83 anos. No que diz respeito às estórias citadas pelos entrevistados, três foram elencadas (Lobisomem, Besta-fera e Jumenta-que-voou), com destaque para a do Lobisomem, que obteve o maior número de depoimentos (3). Relativo aos mitos que a população possui sobre o plantio e a colheita de determinados tipos de espécies vegetais, ficou notadamente evidenciada a importância das fases da lua no manejo das plantas. Quanto às festividades, constatou-se que a população tem mantido a tradição dos rituais religiosos, apesar de ter sido detectado pouco envolvimento no empenho de sua realização. Considerando a diversidade florística total encontrada nos quintais domésticos de ambas as comunidades, registrou-se 148 espécies, nas quais foram distribuídas em 65 famílias botânicas e 123 gêneros. Tais vegetais concentraram-se em sete categorias de uso, com destaque para as alimentícias, que agrupou o maior número de espécies (72). Dentre as alimentícias, 12 espécies foram incluídas nas subcategorias aromáticas e condimentares, sendo as famílias botânicas Solanaceae e Lamiaceae as mais representativas. Os condimentos e aromatizantes são prontamente empregados na culinária diária, podendo ainda ser usufruídos para fins terapêuticos. Os quintais domésticos, portanto, revelaram-se como um espaço de socialização, de simbologias e de conservação da flora útil, visto a dependência das famílias pelos recursos naturais.