Os incêndios representam uma ameaça contra os ecossistemas ao redor do mundo e são um
fenômeno recorrente em ecossistemas semiáridos sazonais. O estudo do regime de incêndios
em áreas protegidas representa potencial conhecimento para o entendimento da dinâmica do
fogo e ações estratégicas de manejo. Nesse sentido, avaliaram-se os padrões do fogo em áreas
protegidas no ecótono semiárido de vegetações de Caatinga e Cerrado no nordeste do Brasil,
caracterizando-se as dinâmicas espaço-temporais associadas com condições climáticas e
ecológicas. O objetivo geral desta dissertação é analisar o regime de fogo no Mosaico
Capivara-Confusões e entorno, no período 1999-2017, visando subsidiar políticas de controle
e manejo de fogo para a Caatinga. Para a análise foi utilizada a série temporal das imagens
Landsat (resolução 30 m) disponíveis nos últimos 19 anos, e teve por objetivos específicos: i)
gerar um banco de dados dos incêndios identificando e delimitando as cicatrizes; ii) analisar
os padrões espaciais, temporais, sazonais e anuais da ocorrência e recorrência dos incêndios;
iii) analisar a evolução espectral da vegetação em áreas queimadas recorrentemente; iv) e
propor ações de orientação dirigidas para o Manejo do Fogo em Unidades de Conservação da
Caatinga. Os resultados mostraram que 47,74 % da área foi queimada durante o período, o
Parque Nacional da Serra das Confusões teve 302.644 ha queimadas, o Parque Nacional da
Serra da Capivara queimou 2.056 ha, e o corredor ecológico queimou 215.718 ha. 36,04% dos
fogos registrados foram durante a estação seca média, quase nenhum fogo aconteceu na
estação seca inicial, enquanto a estação seca tardia e a estação chuvosa tiveram dimensões
queimadas similares. Os anos que mais área foi queimada estiveram relacionados com a
acumulação de anos secos (2007) ou com ENSO (2010, 2012, 2015). Encontramos para o
período de estudo um padrão de um ano úmido com pouca área queimada, seguido de um ano
seco com grandes extensões de área queimada (1999-2001, 2008-2010, 2010-2012). Áreas de
alta recorrência foram sempre perto de estradas, assentamentos ou cidades e os fogos foram
muitas vezes limitados pela topografia. O intervalo de recorrência de fogo foi sempre maior
que dois anos, o que significa que uma área que queimou um ano vai delimitar a área que irá
queimar no ano seguinte. Os padrões que descrevemos aqui constituem o primeiro passo para
o entendimento dos regimes do fogo na região para estabelecer direções com o fim de
melhorar estratégias de manejo e orientar políticas de mitigação na área.