ETNOBIOLOGIA DA COMUNIDADE PESQUEIRA PASSARINHO, ILHA DAS CANÁRIAS, RESERVA EXTRATIVISTA MARINHA DO DELTA DO PARNAÍBA, ARAIOSES/MA/BRASIL
ETNOBIOLOGIA; INSTRUMENTO DE PESCA; PLANTAS MEDICINAIS
Este estudo foi realizado na comunidade Passarinho, inserida na Ilha das Canárias, que faz parte da Resex Extrativista Marinha do Delta do Parnaíba. Diante da etnobiologia que estuda a relação das populações tradicionais com os recursos naturais, o objetivo geral deste estudo é investigar as relações existentes entre a comunidade Passarinho da Ilha das Canárias do município de Araioses/MA e o meio ambiente, dentro do contexto sócio-cultural e ambiental relacionados ao uso dos recursos vegetais e animais. Informações sobre o perfil socioeconômico dos pescadores entrevistados; atividade pesqueira; instrumento de pesca; captura ou coleta de peixes, crustáceos, moluscos e origem da comunidade foram conseguidas por meio de entrevistas com formulários semiestruturados. As análises quantitativas foram utilizadas como complemento da qualitativa. Os resultados mostraram que dos pescadores pesquisados a maioria é masculina (71,80%), mas também houve uma participação bastante expressiva de mulheres (28,20%). Todos apresentam parentes que também pescam, verificando que os conhecimentos sobre a prática e os recursos naturais são transmitidos ao longo de gerações, a maioria dos pescadores é adultos (79,48%), grande parte possui o ensino fundamental com 69,23% e 74,35% relataram ser da própria comunidade. Dos instrumentos de pesca utilizados foram citados: linha/anzol, puçá, tarrafa, landoá, manzuá, arpão, rede de tapagem, caçoeira, choque, sári, groseira e jiqui. A tarrafa foi o instrumento mais citado apresentando 28,57% e o puçá o menos citado com 0,75%. O bagre (Bagre sp) e o pacamão (Amphichthys cryptocentrus Valenciennes em Cuvier e Valenciennes, 1837) foram os peixes mais capturados por quase todos os instrumentos, com exceção do landoá e o arpão. Dentre os crustáceos citados estão o siri (Callinectes bocourti A. Milne-Edwards, 1879), caranguejo (Ucides cordatus Linnaeus, 1763) e camarão (Litopenaeus schmitti Burkenroad, 1936) e entre os moluscos coletados estão o sururu (Mytella guyanensis Lamarck, 1819), o marisco (Anomalocardia brasiliana Gmelin, 1791) e a ostra (Crassostrea rhizophorae Guiding, 1828). Na flora foram identificadas 50 espécies distribuídas em 34 famílias botânicas, distribuídas em 12 categorias de uso. As famílias com maior número de espécies citadas são Lamiaceae com 6 (12%) citações, a família Myrtaceae, Leguminosae-Caesalpinioidea, Euphorbiaceae e Apocynaceae todas com 3 (6%) citações. A espécie mais versátil foi o mangue-vermelho (Rhizophora mangle L.). Na preparação do remédio a folha (38,4%) foi a parte da planta mais usada e a maceração (39, 07%) a forma de preparo mais citada. Assim o trabalho buscou conhecer os recursos naturais utilizados pela comunidade e a forma como são manejados, buscando contribuir para entender o cotidiano da comunidade para servir de subsídio a elaboração do Plano de Manejo da Resex.